Júlio Villani
Conheci o Júlio em Paris, confesso que já não sei mais em que ano...
Visitando o seu ateliê, deparei com suas lindas pinturas geométricas, suas geniais fotos com interferência e, de repente, vi uns pássaros pendurados em fios, flutuando no local. Eram uma concha e uma escumadeira de cozinha, objetos comuns do cotidiano doméstico que, pendurados do teto e com pequenas asas, davam esse efeito divertido e lúdico.
Fiquei encantada e senti que a Galeria Estação precisava mostrar no Brasil aquele trabalho.
Estivemos em várias feiras no Rio de Janeiro e em São Paulo, sempre com muito sucesso!
Agora, em parceria com a Galeria Raquel Arnaud, que abre hoje também, 15/6/2019, uma exposição de pinturas do Júlio, abrimos a nossa, dos objetos.
O trabalho do Júlio nos ajuda a voltar à nossa própria infância.
Ah! Nostalgia gostosa!
Vamos nos divertir?
Vilma Eid
Julio Villani | Por um fio 15 de Junho - 11h Abertura Exposição até 31 de Julho de 2019 Galeria Estação
Júlio Villani – Por um fio
Do bestiário de Artur Pereira aos bichos de Lygia Clark, da Baleia de Graciliano Ramos ao Burrinho Pedrês de Guimarães Rosa, não faltam animais prodigiosos na arte brasileira. Cumpre agora integrar as criaturas de Júlio Villani a essa fauna – tomando-se porém o cuidado de preservar sua singularidade no seio dessa família imaginária. Sua singularidade ou, melhor dizendo, seu hibridismo fundamental, que se dá em muitas camadas. Elas são objets trouvés, à Duchamp, mas são também um exercício risonho dos dons de metamorfose que são próprios da arte. São herdeiras de certo surrealismo parisiense, mas parecem nos remeter às memórias sensoriais de um menino do interior, que observa de sua própria perspectiva os objetos da casa, da cozinha, da fazenda. Sendo tridimensionais, são esculturas – mas não encenam para quem as contempla o espetáculo do escultor que golpeia a ganga bruta e extrai a forma a partir do informe; em vez de formão e cinzel, o alicate, o martelinho, o arame, a solda discreta, a fim de dobrar, prender, amarrar e pendurar. Nesse último sentido, muitas delas são móbiles à maneira de Calder – quer dizer, são e não são, pois continuamos a ver as partes heteróclitas que as constituem, como num desenho de coelho-e-lebre. E nisso, aliás, são brasileiríssimas, filhas do jeitinho e da gambiarra elevados à condição de arte, dotadas daquela graça etérea e desajeitada que as petecas têm. Se nascem de algumas operações manuais simples, nem por isso são simplórias: adivinham-se em cada uma delas a longa reflexão plástica, o mergulho na memória infantil e ainda a malícia sutil que se diverte com a alteração das proporções ou com o desvio das funções e dos usos originais dos objetos que servem de matéria-prima. Estamos no coração do campo artístico moderno, sem dúvida, mas estamos também, numa reviravolta deliciosa, em terras americanas: mestre do entorse gentil, Villani prolonga, sorridente, a antiga tradição do trickster, aquela divindade malandra, muitas vezes de feição animal (coiote, corvo, raposa) que, em tantas mitologias do Novo Mundo, se compraz em ludibriar os demais deuses, subverter o destino fixado e abrir espaço para a vida e a transformação.
Por Samuel Titan
Galeria Estação
Apresenta
Júlio Villani – Por um fio
Abertura: 15 de junho, às 11h - até 31 de julho de 2019
“Do bestiário de Artur Pereira aos bichos de Lygia Clark, da Baleia de Graciliano Ramos ao Burrinho Pedrês de Guimarães Rosa, não faltam animais prodigiosos na arte brasileira. Cumpre agora integrar as criaturas de Júlio Villani a essa fauna – tomando-se, porém, o cuidado de preservar sua singularidade no seio dessa família imaginária”, escreve Samuel Titan no texto sobre esta exposição na Galeria Estação, cujo elenco primordial é formado pelos grandes mestres da arte de raiz, oriundos de todos os cantos do Brasil.
Por um fio, que acontece simultaneamente a outra individual de Júlio Villani em São Paulo, Alinhavai, na Galeria Raquel Arnaud, reúne um conjunto de esculturas, fundamentalmente híbrido, que se dá em várias camadas. “São objets trouvés, à Duchamp, mas são também um exercício risonho dos dons de metamorfose que são próprios da arte”, afirma Titan. Segundo ele, são herdeiras de certo surrealismo parisiense, mas parecem nos remeter às memórias sensoriais de um menino do interior, que observa de sua própria perspectiva os objetos da casa, da cozinha, da fazenda.
Em vez de formão e cinzel, o artista se utiliza de alicate, martelinho, arame, solda discreta, a fim de dobrar, prender, amarrar e pendurar. “...muitas delas são móbiles à maneira de Calder – quer dizer, são e não são, pois continuamos a ver as partes heteróclitas que as constituem, como num desenho de coelho-e-lebre. E nisso, aliás, são brasileiríssimas, filhas do jeitinho e da gambiarra elevados à condição de arte, dotadas daquela graça etérea e desajeitada que as petecas têm”. Titan ressalta que as obras geradas de algumas operações manuais simples provocam longa reflexão plástica, “o mergulho na memória infantil e ainda a malícia sutil que se diverte com a alteração das proporções ou com o desvio das funções e dos usos originais dos objetos que servem de matéria-prima”.
Júlio Villani (Marilia, 1956) vive e trabalha entre Paris e São Paulo. Cursou artes Plásticas na FAAP, na Watford School of Arts de Londres e na École Nationale Supérieure des Beaux Arts de Paris. Seu trabalho foi apresentado em exposições no MAM de Paris, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador; Sesc; Centro de Arte Reina Sofia, Madri, Museo del Barrio, Nova York. Entre suas individuais: Musée des Beaux-Arts de Agen, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Centre d’Art Contemporain 10 Neuf de Montbéliard; Musée de Dieppe; Casa França Brasil e Paço Imperial, Rio de Janeiro; Musée Zadkine, Paris. Presente nos acervos do Fonds National d’Art Contemporain/Ministère de la Culture; Musées de la Ville de Paris; Maison de l’Amérique Latine, Paris; Fondation Daniella Chappard, Venezuela; SESC; Manufacture des Gobelins/Mobilier National, Paris.
Samuel Titan Jr. nasceu em Belém, em 1970. Estudou filosofia na Universidade de São Paulo, onde leciona Teoria Literária e Literatura Comparada desde 2005. Editor e tradutor, organizou com Davi Arrigucci Jr. uma antologia de Erich Auerbach (Ensaios de literatura ocidental, 2007) e assinou versões para o português de autores como Adolfo Bioy Casares (A invenção de Morel), Gustave Flaubert (Três contos, em colaboração com Milton Hatoum), Jean Giono (O homem que plantava árvores, 2018, em colaboração com Cecília Ciscato), Voltaire (Cândido ou o otimismo, 2013), Prosper Mérimée (Carmen, 2015) e Eliot Weinberger (As estrelas, 2019).
Exposição: Júlio Villani – Por um fio
Abertura: 15 de junho, às 11h
Visitação até 31 de julho de 2019
Classificação livre
De segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h - entrada franca.
Galeria Estação
Rua Ferreira de Araújo, 625 – Pinheiros SP
Fone: 11.3813-7253
www.galeriaestacao.com.br
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