A seleção de obras da Galeria Estação para a Art Basel de Miami Beach em 2024 leva em conta a inserção da arte brasileira no circuito internacional desde meados do século XX – em particular, da arte chamada “popular”, no Brasil. Os sentidos atribuídos ao termo continuam em disputa. Mas a rubrica “arte popular” costuma ser usada em oposição à arte “moderna” ou “contemporânea” – com o objetivo de descrever, por exemplo, produções que se encontram à margem do ambiente cultural considerado erudito, ou para designar o trabalho de quem não teve formação artística institucional; distinções nas quais incidem, muitas vezes, discriminações de classe social. Mas é comum, ainda, a confusão de “popular” com “folclore”; com um suposto estado ideal de “pureza” e “ingenuidade”; ou com artesanato, com os ofícios e conhecimentos transmitidos entre familiares ou entre os integrantes de uma mesma comunidade. 

Neste estande, no entanto, o popular compreende também imaginação e invenção. É um conjunto de criações que não obedece a regras ou padrões – nem do artesanato nem da arte moderna ou contemporânea. O popular que se apresenta nesta exposição propõe formas, materiais e procedimentos incomuns. Trata-se de uma reunião de mais de trinta obras, realizadas desde a década de 1930 até hoje, por treze artistas brasileiros com origem, formação e vindos de círculos culturais variados. A partir deste panorama, é possível rastrear, em perspectiva histórica, diversas conexões entre agentes do meio artístico brasileiro e do circuito internacional, nos últimos cem anos. Da mesma maneira, são notáveis as transformações pelas quais passam, nesse arco de tempo, o ambiente cultural do Brasil, o sistema de arte no mundo e a própria noção de “popular”. Ainda mais agora, quando está em curso um fenômeno – que muitos denominam decolonizador – de questionamento das bases eurocêntricas das instituições e das disciplinas de teoria, história e crítica de arte.