encerrado
03.04.2024 a 07.04.2024
Pavilhão Ciccillo Matarazzo Av. Pedro Álvares Cabral, s/n - Ibirapuera, São Paulo - SP, 04094-000 Estande G11 | São Paulo - Brazil

INTRODUÇÃO

Este ano é um marco significativo para a Galeria Estação, que celebra duas décadas de dedicação ao cenário da arte brasileira. 

Ao longo desses 20 anos, temos mantido nosso compromisso com a diversidade artística, promovendo um diálogo inclusivo e equitativo entre diferentes formas de expressão, sem hierarquias ou categorizações. 

Essa abordagem tem sido essencial para ampliar os horizontes da arte brasileira e garantir o reconhecimento tanto de artistas estabelecidos quanto de novos artistas.

Olhando para o futuro, renovamos nosso compromisso de continuar impulsionando o cenário artístico brasileiro. 

Como instituição líder, permanecemos dedicada a mantermos nossa posição como referência no universo da arte.

Em comemoração às duas décadas de história da Galeria Estação e também aos 20 anos da SP Arte, temos o prazer de apresentar uma seleção especial de obras contemporâneas e históricas de artistas brasileiros.

Entre os destaques estão obras de Agnaldo Manoel dos Santos, André Ricardo, Antônio Poteiro, Chico da Silva, Chico Tabibuia, Deni Lantz, Eduardo Ver, José Antônio da Silva, Lorenzato, Madalena Santos Reinbolt e Santídio Pereira.


Convidamos todos a nos visitarem no estande G11 no pavilhão da Bienal, em São Paulo entre os dias 3 e 7 de abril.

MAIS INFORMAÇÕES

Fundada em 2005, a SP–Arte é o maior encontro de arte e design do país reunindo galerias, editoras, revistas, museus e instituições. O evento apresenta, a cada edição, mais de 5 mil obras e 2 mil artistas do Brasil e do mundo no histórico Pavilhão da Bienal, projeto por Oscar Niemeyer. Durante a SP–Arte, colecionadores, profissionais e amantes da arte podem aproveitar, além das milhares de obras de arte trazidas pelos expositores, conversas sobre o fazer artístico, lançamentos de livros, audioguias e ações de formação. A feira ainda promove o Circuito SP–Arte com aberturas de exposições, visitas a ateliês de artistas e incursões a coleções privadas e públicas espalhadas por toda cidade. 

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A Outra Revolução Industrial


Por Theodoro Monteiro


 Quando se fala de Revolução Industrial, tende-se a pensar no passado europeu, na virada do Século XVIII para o XIX, quando as primeiras fábricas passaram a dominar a paisagem urbana do velho continente, promovendo mudanças demográficas sem precedentes. Pouco se lembra, no entanto, que o Brasil, entre os anos 1950 e 1980, viveu algo parecido, só que muito mais veloz e intenso. De país majoritariamente agrário, com 80% de sua população vivendo no campo e apenas o restante nas cidades, 30 anos depois a proporção se inverte, e o Brasil se torna um país majoritariamente urbano.


  Essa nossa Revolução Industrial se reflete profundamente nas artes visuais. Se até os anos 1950 predominam trabalhos que trazem um Brasil rural, como em Portinari e José Pancetti, a partir desse período a cidade, a indústria e a máquina passam a se converter em objeto de interesse dos artistas, por meio de nomes como Rubens Gerchman, Abraham Palatnik e Geraldo de Barros. Nessa transição, contudo, grande parte dos artistas autodidatas, também chamados “populares”, acabaram, erroneamente, associados ao passado, algo extra-cronológico, quase atávico. Nada mais errado. Cada um à sua maneira, nos oferecem (e continuam oferecendo) testemunhos preciosos de nossas mudanças, ainda que sem abrir mão de certa artesanalidade característica de uma sociabilidade pré-industrial.


  A presente seleção de artistas, que traz desde nomes históricos até contemporâneos, é representativa do trabalho da Galeria Estação, que há 20 anos vem buscando situar a produção popular e autodidata não como algo a parte, e sim como elemento central da produção artística brasileira, numa chave histórica, mas também pulsante na contemporaneidade. Assim, esse recorte termina por sintetizar essa pesquisa de longa trajetória, explorando essa sobrevivência do componente artesanal em meio a era da alta tecnologia, bem como a relação entre esses dois fatores, que nada tem de excludentes. 


  Dentre os nomes históricos, destaca-se o escultor fluminense Chico Tabibuia. Com peças construídas sem encaixe, resultantes de um apurado trabalho a partir de troncos de madeira, vemos estátuas de figuras humanas de caráter a princípio bastante arcaico. A ênfase do artista, no entanto, se volta fortemente para elementos sexuais agigantados, em especial os falos. A menção a elementos de culturas longínquas, contudo, acaba por se combinar com traços bastante contemporâneos. Um falo vertical com cabeça humana, por exemplo, ganha asas de madeira, se assemelhando a um míssil. Figuras zoomórficas e antropomórficas se misturam com formas de relógios. Elaboradas tecnologias se combinam com uma sabedoria escultórica muito antiga. 


  Outra combinação bastante curiosa ocorre nos guaches de Chico da Silva. Nela, seres monstruosos e intensamente coloridos interagem, quase sempre ensaiando algum tipo de combate, com bocarras abertas e ferrões à mostra. Esses estranhos bichos têm como ponto de partida animais comumente observados, como lagartos, aves e insetos, porém em sua poética, são convertidos em algo surreal. Embora existam referências a conteúdos mitológicos, uma das inspirações para o artista eram os filmes de ficção científica e terror, amplamente presentes nos cinemas e no imaginário cultural. Assim, o artista combina símbolos da cultura de massa com saberes e lendas populares.


  Outros dois autodidatas trazem importantes pontos de vista sobre esse complexo processo histórico de modernização vivido pelo Brasil. Um deles, a partir do mundo rural, é José Antonio da Silva. Nascido no interior de São Paulo e tendo vivido parte de sua vida como trabalhador rural, traz em suas pinturas cenas da vida no campo, construídas por meio de um intenso colorido e forte dinamismo. Uma análise atenta das mesmas, contudo, revela que o artista sempre faz questão de enfatizar a transformação da paisagem: florestas vão sendo queimadas e derrubadas para darem lugar a monoculturas, boiadas e extração de madeira. O esvaziamento do campo brasileiro foi acompanhado de um crescimento do latifúndio e da monocultura, realidade essa ainda presente e que a obra do artista é um importante testemunho. 


  Já Amadeo Lorenzato apresenta uma perspectiva urbana desse período. Sediado em Belo Horizonte, trabalhou na capital mineira na construção civil. Em sua obra pictórica, empregava instrumentos originalmente utilizados na decoração de paredes, ofício que dominava com maestria. Com auxílio de um pente, criava composições de fatura áspera, discreto dinamismo e um componente pronunciadamente artesanal. Dentre seus temas, se destacam cenas da paisagem urbana da capital mineira, em especial os bairros populares e as favelas, com o artista dando atenção tanto aos personagens presentes nessas cenas quanto a letreiros e elementos arquitetônicos, trazendo luz para a sociabilidade dos bairros populares, algo que cada vez mais ganhava corpo nas cidades do Brasil. 


  Esse legado artesanal, tendo sobrevivido e dialogado com a modernidade instaurada no Brasil, ainda é objeto de interesse de artistas contemporâneos. André Ricardo, se valendo da têmpera, constrói composições altamente simplificadas. Por meio de cores muito luminosas, traz em suas telas desde brinquedos populares e símbolos de ancestralidades africanas até elementos da vida contemporânea, como carros, caminhões e navios de grande porte, porém com uma simplificação formal elegante, de modo que a apenas a essência do mesmo é retida. 


  Revisitando numa chave contemporânea a técnica da xilogravura, Santídio Pereira também traz a fatura e a linguagem artesanal para a contemporaneidade. Dentre seus objetos preferidos estão espécimes vegetais de variadas naturezas. Ainda que consigamos por vezes identificar precisamente a qual espécie pertencem, a maneira que o artista os constrói é bastante simples, focando apenas em elementos primários que os caracterizam: através de poucas linhas e cores saturadas.