Leda Catunda e Alcides
A Galeria Estação já tem feito, com sucesso, parcerias com outras galerias e alguns dos seus artistas contemporâneos.
Desta vez nos unimos à galeria Fortes, D’Aloia & Gabriel para um diálogo entre a artista plástica Leda Catunda e o pintor Alcides, já falecido. A escolha foi da própria Leda, que, ao nos visitar, e entre vários artistas, fez por ele a sua opção.
A Leda, artista compromissada com o mundo contemporâneo, tem também uma linguagem que consigo reconhecer como próxima daquela dos artistas chamados populares. Faz uso das cores, dos elementos que tem à mão, com seriedade e bom humor. Eu não sabia muito bem o que apareceria desse diálogo, mas confiei. Quando ela me chamou para ir ao seu ateliê ver os trabalhos, exultei! Entrei e vi, imediatamente, a interação entre eles. Leda utiliza suportes variados, como sempre acontece no trabalho dela. Colagem, desenho, gravura.
Já Alcides, que conheci bem, usava o acrílico sobre tela. Convivemos muito a partir de 1999, quando ele deixou Mato Grosso para juntar-se a sua filha em São Paulo. Aqui, estranho em terra estranha, passou algum tempo pintando ainda sobre o Mato Grosso. Mas eu senti que a memória o traía e ele estava um pouco indeciso entre a temática de lá e a da sua nova cidade. Foi aos poucos se reafirmando e começou a pintar o que, talvez, mais o impressionara na cidade grande. Aviões, motos, caminhões, barcos, vez ou outra voltando ao tema das pastagens mato-grossenses.
Alcides faleceu em 2007, três dias depois da abertura de sua primeira individual na Estação, deixando uma obra vibrante e consistente.
O encontro desses dois criadores, portanto, só poderia resultar nesta bela mostra.
Estou muito entusiasmada!
Vilma Eid
Leda Catunda e Alcides | Onde estamos e para onde vamos Curadoria Leda Catunda 14 de Junho 19h - Abertura Exposição até 14 de Agosto de 2018 Galeria Estação
Onde estamos e para onde vamos
Claramente fascinado pela ideia de progresso, Alcides Pereira dos Santos, nascido em 1932 na cidade de Rui Barbosa, no interior da Bahia, colecionou em suas obras imagens que refletem seu encanto pelas coisas boas associadas à ideia de avanço tecnológico. Entre pinturas de paisagens e plantações e outras tantas representando fábricas, há toda uma série dedicada a meios de transportes.
Alcides, só Alcides, como veio a ser conhecido enquanto artista, pintou diversos modelos de carros, motos, embarcações e aeronaves. Sempre em telas retangulares de tamanho médio, medindo por volta de um metro de altura por um metro e meio comprimento. Essa escala curiosa de grandes retângulos servia o suficiente para comportar o desenho do veículo em questão, cuja figura se estendia aos quatro lados da tela, beirando as bordas, aproveitando o limite máximo do espaço. Além da figura extremamente detalhada inspirada na linguagem dos desenhos técnicos, porém com proporções inventadas e cores intensas, está também o fundo colorido. Nessas pinturas de veículos a soltura e a expressividade dos gestos que compõem esse fundo contrastam com a precisão das linhas retas que constroem as figuras da moto, do carro, do helicóptero. Os fundos são preenchidos com elementos pontilhados que sugerem retículas, como as presentes nas pinturas pop de Claudio Tozzi, Roy Lichtenstein ou mesmo de Sigmar Polke, tendo esse último certa vez declarado sobre esse símbolo da modernidade gráfica: “Eu amo retícula, eu sou uma retícula!”.
Tendo vivido durante o século XX, presenciou fatos relevantes da nossa história recente que, através de engenhosas tecnologias, apontavam para um futuro promissor e fascinante. Assistiu ao surgimento de diversos modelos de carro no país, com fortalecimento da indústria automobilística no governo de Juscelino Kubitschek nos anos 50, bem como aos lançamentos dos brancos e reluzentes foguetes americanos, da missão Apolo na viagem do homem à Lua no final dos anos 60. Além de ter convivido com toda a mitologia que cerca os submarinos, popularizados dentro da paranoica atmosfera da Guerra Fria e da cortina de ferro no pós-Segunda Guerra Mundial ou mesmo em séries de TV como Viagem ao fundo do mar.
Paralelamente às pinturas dos veículos de locomoção, há, no conjunto de suas obras, imagens que representam lugares como casas, praças, jardins e plantações, que formam um comovente retrato do país que ele conheceu. Além da Bahia onde nasceu e cresceu, morou também em Rondonópolis em 1950 e depois mudou-se, em 1976, para Cuiabá, onde passou a frequentar o Atelier Lvre da Fundação Cultural de Mato Grosso, e, por fim, mudou-se para São Paulo na década de 90. Sob o mesmo prisma de um maravilhamento futurista, pintou incríveis prédios de fábricas, igualmente cheios de detalhes do maquinário, chaminés e fumaça. Sua poética parece girar em torno do desejo de um mundo organizado, seguramente compartimentado em categorias envolvendo: veículos de lazer, veículos de guerra, plantações e indústrias.
Compartilho de minha parte um carinho especial pela organização das coisas da vida que busco representar em minha obra escolhendo imagens arquetípicas como a estrada, a montanha, a casinha e o laguinho. Derivam do mesmo repertório imagens de gotas, cachoeiras, gatos e outros animais, como símbolos dos tempos em que vivemos, baseados na mesma mitologia de progresso e de um suposto conforto que deveria resultar do esforço de se ordenar racionalmente a existência. Um mundo confortável de paisagens montanhosas com estradas curvas, lagos e pedrinhas. Sempre gostei de carros e, como muitos da minha geração, cresci assistindo às corridas de Fórmula 1, acompanhando e torcendo pelos heróis Emerson, Nelson e Ayrton. Assim, desenvolvi um gosto especial pelos desenhos dos circuitos de corrida e pelas sofisticadas e coloridas pinturas de solo que servem de sinalização. Pensando nos veículos de Alcides, elaborei Pista I e Pista 2, pinturas-objeto recortadas em madeira com estradas asfaltadas para carros, motos e caminhões e com rios e lagos para barcos, balsas e submarinos.
Estradas, veículos e viagens fazem pensar numa sugestão metafórica de mudança. Deslocamento de um ponto a outro, sair de uma situação para outra, nova. Assim, podemos pensar que Alcides, que foi pedreiro, pintor de paredes, barbeiro e sapateiro, tenha alcançado através da sua arte um novo lugar. Sintetizando sonho e desejo nas imagens que produziu, mudou seu mundo, à sua maneira, generosamente compartilhando sua arte com todos nós.
Leda Catunda, 2018
GALERIA ESTAÇÃO
Apresenta
Leda Catunda e Alcides: onde estamos e para onde vamos.
Abertura: 14 de junho, às 19h – até 14 de Agosto de 2018
A Galeria Estação tem convidado, além de críticos, artistas para a curadoria das exposições de seu acervo, como Paulo Pasta (José Antonio da Silva e Julio Martins da Silva) e Rodrigo Bivar (Neves Torres e Manuel Graciano). Desta vez, convidou Leda Catunda e propôs um novo modelo: a artista-curadora escolhe um nome do elenco da galeria para dialogar com sua própria produção. Nesse contexto surge Leda Catunda e Alcides: onde estamos e para onde vamos, mostra que reúne cerca de 30 obras da dupla de artistas.
Como ressalta Leda, Alcides (1932, Rui Barbosa - BA / 2007, São Paulo – SP) buscou a representação de seu tempo e de seu lugar. O pintor assistiu ao desenvolvimento da indústria automobilística, ao lançamento de foguetes, como a marcante viagem do homem à lua, e aos mistérios que rondavam os submarinos da Guerra Fria. Quando morava em Mato Grosso criava imagens de casas, praças, jardins, plantações e animais. Ao mudar-se para São Paulo, na década de 90, a sua pintura de original geometria passa a retratar modelos de carros, motos, embarcações, aeronaves, fábricas e paisagens urbanas
Para a artista-curadora, assim como a poética de Alcides parece girar em torno do desejo de um mundo organizado, seguramente compartimentado em categorias, ela nutre um carinho especial pela organização das coisas da vida. “Busco representar as coisas da vida em minha obra, escolhendo imagens arquetípicas como a estrada, a montanha, a casinha e o laguinho, além de cachoeiras e animais, como símbolos dos tempos em que vivemos, baseados na mesma mitologia de progresso e de um suposto conforto que deveria resultar do esforço de se ordenar racionalmente a existência”.
Leda compartilha ainda o fascínio de Alcides por veículos, ao pertencer a uma geração encantada por carros, sentimento estimulado pelas corridas e heróis da fórmula1. Segundo a artista, foi daí que desenvolveu um gosto especial pelos desenhos dos circuitos de corrida e suas sofisticadas e coloridas pinturas de solo que servem de sinalização. Pensando nos veículos de Alcides, Leda concebeu para esta exposição ‘Pista I’ e ‘Pista 2’, pinturas-objeto recortadas em madeira com estradas asfaltadas para carros, motos e caminhões e com rios e lagos para barcos, balsas e submarinos.
“Estradas, veículos e viagens fazem pensar numa sugestão metafórica de mudança. Deslocamento de um ponto a outro, sair de uma situação para outra nova. Assim podemos pensar que Alcides que foi pedreiro, pintor de paredes, barbeiro e sapateiro tenha alcançado através da sua arte um novo lugar. Sintetizando sonho e desejo nas imagens que produziu, mudou seu mundo, a sua maneira”, completa Leda.
Sobre a Galeria Estação
Com um acervo entre os pioneiros e mais importantes do país, a Galeria Estação, inaugurada no final de 2004, consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não erudita. A sua atuação foi decisiva pela inclusão dessa linguagem no circuito artístico contemporâneo, ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas sob o olhar dos principais curadores e críticos do país. O elenco, que passou a ocupar espaço na mídia especializada, vem conquistando ainda a cena internacional, ao participar, entre outras, das exposições “Histoire de Voir”, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (França), em 2012, e da Bienal “Entre dois Mares - São Paulo | Valencia”, na Espanha, em 2007. Emblemática desse desempenho internacional foi a mostra individual do Veio – Cícero Alves dos Santos, em Veneza, paralelamente à Bienal de Artes, em 2013. No Brasil, além de individuais e de integrar coletivas prestigiadas, os artistas da galeria têm suas obras em acervos de importantes colecionadores brasileiros e de instituições de ponta, tais como: Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu Afro Brasil em São Paulo, o Pavilhão das Culturas Brasileiras em São Paulo, o MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o MAR no Rio de Janeiro.
Exposição: Leda Catunda e Alcides: onde estamos e para onde vamos.
Abertura: 14 de junho, às 19h
Visitação até 14 de Agosto de 2018
De segunda a sexta, das 11h às 19h,sábados das 11h às 15h - entrada franca.
Galeria Estação
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