Véio
Desde 2009, quando a Galeria Estação fez a primeira exposição deste escultor sergipano, com curadoria do Paulo Monteiro, só temos vivido momentos gratificantes na carreira de Cícero Alves dos Santos – Véio.
Paris, Londres, Veneza, Rio de Janeiro foram algumas cidades onde já estivemos com ele em exposições inesquecíveis.
De 2009 a 2017 – vocês devem pensar que o sucesso veio muito rápido... mas não é verdade. Véio nasceu talentoso, ainda menino começou a esculpir e quando jovem já se considerava artista. Não por vaidade, mas por conhecer exatamente o seu valor.
Tenho orgulho de dizer que quando o visitei pela primeira vez ele estava pronto. Se tenho um mérito, esse foi o de enxergar...
Depois do Paulo Monteiro, foram curadores internacionais que “enxergaram” a obra, além do querido Rodrigo Naves, que fez a segunda curadoria na Galeria Estação. Na mesma data lançamos um livro editado pela Martins Fontes com autoria do Rodrigo.
Querem mais?
Ronaldo Brito, no Rio de Janeiro, certamente chamou atenção para a primeira individual de Véio na Cidade Maravilhosa, na Gustavo Rebello Arte, que realizamos há pouco.
A exposição que estamos abrindo na Estação é uma extensão daquela do Rio, com a mesma curadoria de Ronaldo Brito e a oportunidade de mais uma vez mostrarmos quem é o escultor que acaba de ser agraciado com o Prêmio Itaú Cultural 30 Anos- Categoria CRIAR
Abertura e bate-papo com duas feras na área da crítica e do ensino da História da Arte: Rodrigo Naves e Ronaldo Brito. Imperdível!!!
Obrigada a todos. A colecionadores, artistas, instituições e, principalmente, ao público da Galeria Estação, que nos prestigia e acredita no nosso trabalho.
Vilma Eid
Véio | De Surpresa no Mundo Curadoria Ronaldo Brito 10 de junho 11h - Abertura 12h - Debate com o curador Ronaldo Brito e o crítico de arte Rodrigo Naves Exposição até 05 de Agosto
De Surpresa no Mundo
O que chama logo a atenção é o modo livre e franco como esta fauna imaginária chega ao real. Quase sempre em movimento, mais ou menos como um bicho sai do mato e, de repente, surge à nossa frente. E não se trata de um movimento representado – sua própria formalização é que é movimentada, rápida e sucinta a escultura se apresenta e nos interroga. Traduz assim o ideal moderno da autossuficiência da forma: ela sustenta a sua surpresa estética como se quisesse aparecer, de novo e sempre, pela primeira vez. Não sei, sinceramente, se Véio conhece Picasso e Miró. Em todo caso, eles o conhecem, rondam o seu imaginário, participam de seu processo de produção.
Dado o seu aspecto disforme, muitas dessas figuras mereceriam se incluir na categoria do Grotesco. Poderiam até responder ao célebre apelo surrealista de André Breton: “A beleza será convulsiva ou não será”. No entanto, a divertida economia de meios, a espontaneidade com que vêm a ser, certo tônus vital descontraído talvez as deixem mais à vontade sob a rubrica do Pitoresco. A meu olhar, pelo menos, não parecem nada assustadoras. Estranhamente familiares, teriam com certeza algo de onírico, jamais evocam contudo o terror do pesadelo. Mas o principal, o que de fato interessa é o seu modus operandi poético. Reparem a desenvoltura com que fazem coincidir meios e modos – seja qual for o seu enigma de origem, sua aparência intrigante, as contorções da madeira nunca perdem de vista a exigência escultórica básica: a peça há de ficar de pé por si mesma. Esses bichos inverossímeis começam por enfrentar o teste de realidade elementar: existir por conta própria, exercer sua liberdade de ação.
À contracorrente do cânone da chamada Arte Popular Brasileira (de resto, no modesto entendimento do crítico outsider nesse domínio, uma classificação essencialista caduca) as esculturas de Véio são tudo menos hieráticas. Não surgem, estáticas e extáticas, do fundo do tempo, a conservar tradições e vivências varridas pela ação predatória da modernidade. Tampouco obedecem à religiosidade inerradicável de certa estatuária humilde que costuma ser agraciada – e, com isso, esteticamente sublimada – com a aura da humanidade pura. Em comparação, já por sua mobilidade casual, a escultura de Véio resulta decididamente profana. Ninguém ousará contestar sua extração mítica; dito isso, ela vale sobretudo por seus achados formais, indissociáveis, é evidente, de seu conteúdo de verdade histórico e existencial. Ela nos atrai justo por sua contemporaneidade, porque nela pulsa uma vida imaginativa atual.
De imediato, sem preâmbulos, nos descobrimos às voltas com uma verve combinatória capaz de articular, desarticular e rearticular seus elementos plásticos de maneira coerente e inventiva. Nesse sentido, Véio demonstraria, acima de tudo, expediente. É o repentista ágil, a improvisar com as madeiras nativas de seu habitat agreste, acompanhando ou contrariando as rimas de sua morfologia, e delas tirar efeitos inesperados. Algumas peças se me afiguram quase ready-mades do sertão – duas ou três manobras inspiradas bastam ao artista para transformar os galhos secos de uma árvore morta num bicho ligeiro de escultura.
A nenhum texto crítico, ainda que curto e despretensioso, seria perdoável calar-se diante do pequeno escândalo que representa a cor na escultura de Véio. E não apenas porque se mostram cores abertas, sem nuances ou matizes, extrovertidas e vibrantes, aptas a competir com a luz brutal do sertão. Mesmo o seu negro parece suscetível de brilhar no escuro. O importante é que atuam de maneira substantiva na definição do corpo da escultura, caracterizam a sua personalidade. Intuitivamente, Véio faria um uso topológico da cor. Elas promovem a interação entre as partes das peças de modo a torná-las um Todo descontínuo moderno. As esculturas não se resumem a simples figuras projetadas contra um fundo neutro. Elas reagem a seu entorno, acontecem no mundo.
Ronaldo Brito
Rio de Janeiro, março de 2017
Galeria Estação
Apresenta
Véio – De Surpresa no Mundo
Abertura: 10 de junho, às 11h
Exposição até 29 de julho de 2017
Quando a Galeria Estação fez 10 anos, em 2014, comemorou seu aniversário com exposição e publicação dedicadas a Cícero Alves dos Santos, o Véio (1948, Nossa Senhora da Glória – SE). Nada poderia ser mais representativo, pois, desde a sua inauguração há 12 anos, a galeria trabalha no sentido de diluir a fronteira que separava artistas não eruditos do circuito da arte contemporânea brasileira.
A obra de Véio é resultado significativo desse processo, que culminou com uma grande individual do artista em Veneza, paralelamente à 55ª Bienal, depois de o escultor ter conquistado a Fundação Cartier, em Paris, onde participou da exposição comemorativa dos 30 anos da instituição francesa, ao lado de outros brasileiros contemporâneos, como Adriana Varejão e Beatriz Milhazes.
Agora, sob a curadoria de Ronaldo Brito, a Galeria Estação realiza Véio - De Surpresa no Mundo, título cunhado pelo crítico em seu texto concebido para a exposição, que já foi apresentada em abril no Rio de Janeiro, por meio de uma parceria entre a Galeia Estação e a carioca Gustavo Rebello.
Para Brito, a obra de Véio traduz o ideal moderno da autossuficiência da forma: “ela sustenta a sua surpresa estética como se quisesse aparecer, de novo e sempre, pela primeira vez”. Ressalta ainda que, pelo aspecto disforme do trabalho, muitas dessas figuras mereceriam se incluir na categoria do Grotesco, mas pela divertida economia de meios, espontaneidade com que vêm a ser e certo tônus vital descontraído, ele prefere a rubrica do Pitoresco.
As cerca de 11 esculturas reunidas na mostra trazem troncos, galhos e raízes que já têm presenças próprias, nas quais Véio apenas intervém pontualmente, esculpindo ou pintando, para tornar mais explícitas as figuras e formas que vislumbra naqueles elementos naturais. Como destaca Brito, as cores são fundamentais na obra do artista. “E não apenas porque se mostram abertas, sem nuances ou matizes, extrovertidas e vibrantes, aptas a competir com a luz brutal do sertão, mas também por aturar de maneira substantiva na definição do corpo da escultura, caracterizando a sua personalidade”. Para o crítico, as cores promovem ainda a interação entre as partes das peças de modo a torná-las um Todo descontínuo moderno. “As esculturas não se resumem a simples figuras projetadas contra um fundo neutro. Elas reagem a seu entorno, acontecem no mundo”, completa.
Assim como muitos de seus conterrâneos, o escultor recebeu seu nome em homenagem a Padre Cícero. Já o apelido surgiu porque ele gostava muito de escutar as conversas das pessoas mais velhas. Autodidata, Véio admirava a cultura popular desde criança, quando começou a executar suas primeiras peças em cera de abelha. A relação intensa com seu meio fez o artista criar, ao lado de seu ateliê, localizado no interior sergipano, um “Museu do Sertão”. Muitos dos objetos recolhidos no museu testemunham o embate do homem do campo com a natureza. São chapéus de couro, utensílios domésticos, maquinas rústicas, roupas e acessórios que fazem parte da vida do sertanejo.
Exposição: Véio – De Surpresa no Mundo
Abertura: 10 de junho 11h
Até 11 de junho a 29 de julho de 2017
de segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h - entrada franca.
Galeria Estação
Rua Ferreira de Araújo, 625 – Pinheiros SP
Fone: 11.3813-7253
Informações à Imprensa
Pool de Comunicação – Marcy Junqueira
Atendimento: Martim Pelisson
Fone: 11.3032-1599
marcy@pooldecomunicacao.com.br / martim@pooldecomunicacao.com.br