encerrado
30.08.2016 a 24.09.2016
Rua Ferreira Araújo, 625 - Pinheiros CEP: 05428-001 São Paulo - SP | Brasil | São Paulo - Brazil

INTRODUÇÃO

Há cerca de três anos decidimos iniciar as atividades deste projeto. No início muito se opinou sobre o caminho a tomar e quais estratégias adotar para que nosso objetivo fosse alcançado de forma mais eficiente. Queríamos fazer de tudo um pouco, como sempre, e como todos. Mas isso não iria funcionar. Decidimos, então, não querer mais abraçar e mudar o mundo, mas ir devagar: tentar fazer a diferença a partir de algo que se mostrasse sólido e contínuo. 

Há projetos institucionais e particulares de fomento à arte no Brasil, mas todos nós, amantes do tema, desejamos que houvesse mais. Decidimos, portanto, criar um caminho alternativo para isso. E foi assim que nascemos. O Acervo CSC tem o objetivo de “incentivar o incentivo” à arte. Para isso, definimos que o caminho seria apoiar a produção do jovem artista brasileiro. Acreditamos que é dessa forma que melhor contribuiremos para o fomento da arte e da cultura de nosso país.

 Apoiar, fazer circular, incentivar a educação continuada. Sugerir os Acompanhamentos Técnicos, os Editais, as Residências e os Coletivos. O caminho parece simples, mas é um trabalho árduo, cheio de obstáculos, mas comum a qualquer jovem brasileiro que busca o seu espaço num mercado profissional em sua área de atuação. Priorizamos a importância de os jovens artistas se verem como profissionais da arte. Nós os incentivamos a que busquem o aperfeiçoamento, elejam e ouçam seus mentores, respeitem e compreendam a importância de uma galeria, de uma exposição, e que se relacionem com o público em geral interessado por arte. 

Não somos uma ONG e não somos um programa de assistência social; mas quem sabe optemos por um desses caminhos, se ele for o melhor. Sonhamos com o dia em que a boa arte brasileira que está sendo produzida hoje por artistas jovens tenha a circulação e o respeito merecidos, assim como ocorre com nossos grandes mestres. É para isso que trabalhamos. Queremos um maior público apoiando o jovem, mais pessoas interessadas pela produção daquele que ainda não é conhecido ou representado, mas que merece a oportunidade. Por outro lado, também queremos que este artista entenda que, para que sua habilidade, seu dom ou sua refinada técnica chegue ao conhecimento do público em geral, um longo e trabalhoso percurso precisa ser trilhado. Preconceitos existem e devem ser superados. Nesse sentido, queremos que os expectadores e os jovens artistas saibam que estaremos aqui para lhes ajudar, indicar e sugerir.

É com gratidão aos muitos envolvidos neste projeto que acompanhamos o jovem Santídio expor sua obra pela primeira vez, com curadoria e espaço expositivo de tamanha importância.

 

Acervo CSC

MAIS INFORMAÇÕES

Santídio Pereira - Cores em preto e branco Abertura: 30 de agosto, às 19h Até 29 de setembro de 2016 Curadoria: Rodrigo Naves

curador

Santídio Pereira: cores em preto e branco
Rodrigo Naves


I


Peço ao leitor que faça um pequeno esforço de imaginação. Suponha que você tem diante de si duas superfícies do mesmo tamanho: uma é uma lousa comum, com a superfície negra, dessas que eram usadas na escola para que o professor escrevesse com giz. A outra é uma tábua nua, lixada e lisa como a lousa.
Agora experimente desenhar com giz sobre a lousa algo simples, uma margarida, por exemplo. Com um lápis, procure fazer o mesmo sobre a madeira. Caso você tenha razoável habilidade para o desenho, possivelmente as duas flores terão alguma semelhança, embora o fundo de ambas varie de maneira mais acentuada. Será negro no primeiro caso e da cor da madeira no segundo.
A seguir, utilize uma faca ou um instrumento chamado goiva e escave a madeira, acompanhando o desenho da margarida traçado anteriormente. Essa etapa irá requerer um pouco mais de esforço e destreza devido à resistência da madeira. Vencido esse último passo, você estará prestes a realizar uma xilogravura. Agora resta entintar, digamos com tinta negra, usando um rolo de borracha sobre a madeira, e, depois de colocar cuidadosamente o papel apropriado sobre a placa, friccionar com o dorso de uma colher de pau (ou de um material liso qualquer), para pressionar o papel contra a madeira entintada.
Agora volte a comparar o desenho sobre a lousa e a gravura resultante dos movimentos anteriores. Uma primeira diferença é que, na gravura, a imagem aparecerá invertida em relação ao desenho da lousa, como se este fosse mostrado diante de um espelho.
Há mais, porém. Sobre a lousa o giz desliza muito mais suavemente do que a goiva ao sulcar a madeira. E algo desse maior esforço se transporá para a imagem em papel. Os limites do desenho impresso terão bordas consideravelmente mais firmes, e o contraste entre o branco e o negro será bem mais acentuado na gravura do que no desenho feito com giz sobre a lousa acinzentada. Em suma, as possíveis vacilações da mão que desenhou praticamente desaparecerão na gravura.


II


Santídio Pereira nasceu em 1996. Aos 9 anos já brincava de desenhar e pintar. As paredes de madeira da casa precária que divide com a mãe na Favela do 9, na região do Ceasa, ainda têm os desenhos que fazia muito jovem. Aos 14 anos começa a gravar sob orientação de Fabrício Lopez e Flávio Castellan – dois excelentes gravadores –, que ensinam os garotos que frequentam o Instituto Acaia, ONG que desenvolve trabalho notável na região do Ceasa da cidade de São Paulo. Esta é sua primeira exposição individual.
Muitas vezes, as xilos em preto e branco de Santídio ainda guardam a lembrança do aprendizado e revelam uma aspereza de que ele sabe tirar partido. Em vez de tentar imitar pequenos detalhes de uma folhagem, por exemplo, ele se aproveita das irregularidades da madeira rachada – lembro ao leitor que hoje em dia muitos xilogravadores, por motivos práticos, lançam mão de madeiras compensadas para realizar suas estampas.
A meu ver, as melhores gravuras de Santídio envolvem a presença marcante de cores. Ele as utiliza produzindo séries em que, com um mesmo desenho, tira gravuras em que varia as cores (sobrepondo ao negro uma ou mais cores), em trabalhos que contam apenas com a presença de cores (sem a presença do negro) ou em gravuras cujas figuras são delineadas em preto, mas recebem manchas de cor que modificam a percepção que temos delas.
Os grandes xilogravadores japoneses da passagem do século XVIII para o século XIX – como Hiroshige, Utamaro e Hokusai – usavam as cores com uma incrível sutileza, obtendo efeitos semelhantes àqueles que os pintores ocidentais conquistaram com o claro-escuro.
Artistas modernos como Edvar Munch e Oswaldo Goedi tendiam a empregá-las de maneira mais plana, com o que as coisas adquiriam uma presença menos lírica e mais acintosa. Trabalhavam com elas à maneira dos pintores modernos.
Não faria sentido comparar a produção desses grandes artistas, cujas obras já cumpriram sua trajetória e agora só nos cabe discutir, com a produção de um jovem talentoso de 19 anos que ainda terá que enfrentar um longo caminho para firmar suas intuições. Essas comparações buscam apenas caracterizar melhor o uso que ele faz das cores.


III


 A jovem com uma flor vermelha nos cabelos tem uma aparência que lembra a tradição expressionista. Suas feições são compostas de vigorosos contrastes de preto e branco, o que dá a seu rosto uma presença dúbia, como se a sua existência não bastasse a si mesma, pois o negror do ambiente a pressiona de todos os lados. Já a flor vermelha aponta em outra direção, indiscutível e afirmativa. Não lembrasse tanto o sangue e os traumas da adolescência. A fragilidade do rosto e a intensidade da flor estabelecem entre si uma relação forte, que problematiza o aspecto decorativo – algo muito presente em vários trabalhos desta mostra – do adereço. O resultado tem algo da ousadia e dos riscos daqueles que encaram a vida sem medo.
As duas faixas sinuosas, azul e amarela, separadas por uma região branca igualmente ondulada, mantêm uma relação produtiva com os papéis cortados de Matisse, porém com uma diferença importante. As três áreas não intervêm umas nas outras – como ocorre frequentemente nas colagens de Matisse – e com isso também se cria entre elas uma relação diferente da obtida pela sobreposição de cores matissianas. Em lugar de, por essas sobreposições, obter-se uma rede de cores contrastantes, na gravura de Santídio o que se vê é um jogo de aproximação entre ambas as faixas de cor – com uma luminosidade equivalente – sempre posta em questão pela mancha branca. Assim, parte significativa do encantador jogo decorativo estrutural de Matisse é anulada pela impossibilidade de as três áreas encontrarem zonas de intersecção.
Acredito ser dispensável expor aqui por que considero as mais importantes vertentes decorativas da arte moderna (Matisse, Vuillard, Bonnard e tantos outros). Basta, acredito, um argumento: nessas obras – sobretudo na pintura de Matisse – o aspecto decorativo não é um acessório que busca dar exteriormente elegância e variedade às figuras. O estilhaçamento dos elementos da realidade pelas padronagens, arabescos e motivos geométricos tem em sua obra a função de romper com um mundo sólido dado a priori, que assim adquire maior liberdade ao possibilitar rearranjos muito mais ricos.
As algas marinhas de Santídio têm algo em comum com as soluções matissianas. Contra o fundo azul das águas, elas procuram alcançar a luz das superfícies. Os verdes que se envolvem a seu redor evitam imobilizá-las pela cor local e, assim, acentuam a dança dessas plantas aquáticas levadas para lá e para cá pelo movimento das águas.


III


Detive-me nuns poucos momentos da produção de Santídio Pereira apenas para pontuar algumas soluções características dela. Seria possível ir mais longe porque ele tem trabalhos variados, mas que apenas apontam para a constituição de uma poética. No geral, sobressai nela a busca de formas em que a alegria troca frequentemente de posição com imagens mais secas, em que cores luminosas se veem turvadas pelos negros. E espero que esse dualismo consiga se firmar e se fortalecer em suas gravuras, já que é justamente essa experiência híbrida – feita de momentos de leveza e de desolação – que dá o tom da existência contemporânea.
Para o crítico que defronta pela primeira vez com um trabalho tão promissor, torna-se quase impossível não projetar sobre trabalhos iniciais uma trajetória longa e grandiosa. Muitas vezes esse entusiasmo se revela ilusório. São muitos os obstáculos que o artista precisará transpor. Dentre eles, penso que a busca do sucesso a qualquer preço é um dos mais tentadores, num mundo artístico que iguala cínica e simplesmente altos preços de mercado e qualidade artística. Só nos resta esperar que esse jovem e talentoso artista não se esqueça das dificuldades do início de sua caminhada, quando chegar – e se chegar – o momento de o canto das sereias tocar seus ouvidos.


RELEASE

GALERIA ESTAÇÃO APRESENTA 



Um certo olhar – Coleção Celma Albuquerque
Abertura: 30 de agosto, às 19h – Até 15 de outubro de 2016 


Individual de Santídio Pereira ?
Abertura: 30 de agosto, às 19h – Até 24 de setembro de 2016 ? 


Paralelamente à 32° Bienal de São Paulo, a Galeria Estação homenageia a galerista mineira Celma Albuquerque, morta em 2015, e exibe a primeira individual do jovem Santídio Pereira. 


A exposição Um Certo olhar é um recorte da coleção particular construída por Celma Albuquerque reunindo 40 trabalhos de nove artistas afinados com o elenco da Galeria Estação. Este acervo privado revela o olhar de uma galerista que mesmo levando para seu espaço em Belo Horizonte nomes como Iberê Camargo, Nelson Felix, Antonio Dias, José Bento e muitos outros, nunca diferenciou a produção dita erudita da então chamada popular. Uma linguagem que, só agora, vem sendo devidamente discutida e inserida por pensadores e críticos no mesmo circuito da arte contemporânea.  


Com curadoria de Vilma Eid e Germana Monte-Mor, a mostra traz obras exclusivamente observadas pelo crivo sensível de Celma Albuquerque: Itamar Julião (Prados, MG, 1959 – Prados, MG, 2004), Artur Pereira (Cachoeira do Brumado, MG 1920 - Mariana, MG, 2003), Mauricio Silva (1960, Recife, PE), Maurino (1943, Rio Casaca, MG), Amadeo Luciano Lorenzato (1900, BH, MG – 1995, BH, MG), Farnese de Andrade  (1926, Araguari, MG  –  1996, RJ, RJ), Jadir João Egídio (1933,  Divinópolis, MG), Antonio Poteiro (1925, Santa Cristina da Posse, Braga, Portugal – 2010, Goiânia, GO)  e G.T.O. – Geraldo Teles de Oliveira (1913, Itapecerica, MG – 1990, Divinópolis, MG).


Em outro andar da Galeria Estação, com curadoria de Rodrigo Naves, serão apresentados trabalhos do jovem gravurista Santídio Pereira (SP, 1996). Esta é a primeira exposição individual do garoto que aos 9 anos já brincava de desenhar e pintar. As paredes de madeira da casa precária que divide com a mãe na Favela do 9, na região do Ceasa, ainda têm os seus desenhos. Aos 14 anos começou a gravar sob orientação de Fabrício Lopez e Flávio Castellan, que ensinam no Instituto Acaia, ONG que desenvolve trabalho na região do Ceasa, em São Paulo.


Para o curador, a presença de cores merece destaque na produção de Santídio. “Ele as utiliza produzindo séries em que, com um mesmo desenho, tira gravuras em que varia as cores (sobrepondo ao negro uma ou mais cores), em trabalhos que contam apenas com a presença de cores (sem a presença do negro) ou em gravuras cujas figuras são delineadas em preto, mas recebem manchas de cor que modificam a percepção que temos delas”, explica Naves. Já as xilos em preto e branco, segundo o curador, ainda guardam a lembrança do aprendizado e revelam uma aspereza de que ele sabe tirar partido ao em vez de tentar imitar pequenos detalhes de uma folhagem, ele se aproveita das irregularidades da madeira rachada. 


Naves aponta também que, no geral, sobressai na poética do jovem artista a busca de formas em que a alegria troca frequentemente de posição com imagens mais secas, em que cores luminosas se veem turvadas pelos negros. “Espero que esse dualismo consiga se firmar e se fortalecer em suas gravuras, já que é justamente essa experiência híbrida – feita de momentos de leveza e de desolação – que dá o tom da existência contemporânea”, completa.


 


Sobre a Galeria Estação


Fundada em 2004, a Galeria Estação é o espaço do imaginário do povo brasileiro. Com um acervo entre os mais importantes do País, em exposição permanente, o espaço é um modelo inédito de exibir e promover a produção de raiz que emerge do povo brasileiro. Esculturas, gravuras, pinturas e objetos, tudo passa pelo crivo de Vilma Eid, proprietária da coleção, estudiosa e apaixonada pela arte que brota da cultura chamada popular. Foi ela que estimulou críticos, historiadores e artistas a pensar nesta linguagem como parte da arte contemporânea. Assim vem realizando exposições que têm como curadores, Rodrigo Naves, Lorenzo Mammí, Paulo Pasta, Marco Gianotti, entre outros. Costuma viajar pelo Brasil para identificar e reunir preciosidades de autorias já reconhecidas ou novos talentos. Além de realizar exposições, conta com um acervo aberto à visitação, reunindo nomes como os lendários G.T.O., Chico Tabibuia, Nuca de Tracunhaém, Artur Pereira, Alcides, Louco, Vidal, Mestre Galdino, Mestre Guarany, Mestre Vitalino, José Antonio da Silva, Samico, Agostinho Batista de Freitas, Miriam, Maria Auxiliadora, entre muitos outros. Localizada em Pinheiros, a Galeria Estação se tornou o lugar para se conhecer o que de melhor é concebido pela imaginação do povo de várias regiões brasileiras.


 


Serviço:


Santídio Pereira


Curadoria: Rodrigo Naves


Abertura: 30 de agosto, às 19h (convidados)


Período da exposição: De 31 de agosto a 24 de setembro de 2016, de segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h - entrada franca.


 


Galeria Estação


Rua Ferreira de Araújo, 625 – Pinheiros SP


Fone: 11.3813-7253


 


Informações à Imprensa


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Atendimento: Martim Pelisson e Luana Ferrari


Fone: 11.3032-1599


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