SEASON 1 at SEEDS tem curadoria de Stefano Rabolli Pansera
MADEIRA ANIMADA DE SUJEITOS, OBJETOS E ONTOLOGIAS ALTERNATIVAS
Na cultura amazônica, embora sejam corporais diferentes, as plantas e os animais são atribuídos ao status de pessoas. Como os humanos, as plantas e os animais possuem intencionalidade e agência.
A prática de Véio revela essa sensibilidade para com a natureza: ele encontra a natureza revelando o ‘ser humano’ das plantas naturais, bem como o ‘ser-animal’ dos corpos humanos.
Véio caminha ao longo dos rios, em sua terra natal, Nossa Senhora da Glória, um pequeno povoado do Nordeste do Brasil. Ele reúne toras de madeira e as leva para seu ateliê. Lá, ele trabalha girando, raspando, lascando, modelando, esculpindo e pintando os galhos, finalmente revelando figuras humanas ou animais latentes na madeira.
Véio não impõe figuras às matérias-primas, mas revela silhuetas familiares e formas ocultas de entalhes ocasionais e pinturas coloridas. A visão intocada de Véio revela afinidades latentes entre as formas, a possibilidade de se tornar algo diferente e inesperado. O uso ousado de cores, a contaminação de materiais e o uso lúdico de padrões transformam a linguagem e as possibilidades em constante mudança.
Cada escultura revela silhuetas familiares ao olho perspicaz. Como xamã, Véio traz à presença formas ocultas, retirando-as da matéria-prima por meio de entalhes e pinturas ocasionais, devolvendo à madeira um sentido que ultrapassa a pura fisicalidade.
As esculturas de Véio oferecem insights sobre ontologias alternativas e formas de construir, dissolver ou transformar dicotomias tradicionais que continuam a moldar poderosamente nossos mundos, antecipando a possibilidade de que a matéria seja conceituada como cronicamente instável, inerentemente indiferenciada e, em última instância, dependente da prática.