Nino
Iniciamos o ano de 2016 com grandes responsabilidades.
A primeira delas é que após termos recebido o título de Melhor galeria de arte em 2015, não podemos deixar a peteca cair.
Se merecemos essa honraria, que nos foi conferida por um júri indicado pelo Guia da Folha de São Paulo, foi graças ao empenho de uma equipe apaixonada e comprometida com as diretrizes traçadas há 12 anos, quando abrimos a Galeria Estação. Aos nossos artistas e ao publico que nos prestigia e acredita no nosso trabalho, muito obrigada.
O que eu chamaria de segunda grande responsabilidade é abrir o ano com a exposição do escultor cearense de Juazeiro do Norte, João Cosme Felix, mais conhecido como Nino.
Eu o conheci no início dos anos 90 e foi amor à primeira vista pelo homem e pela obra.
De uma humildade e suavidade tocantes, suas esculturas liberam toda a sua grandeza interior.
Estrela de primeira grandeza no cenário artística brasileiro e internacional, Nino faleceu em 2002, nos deixando, felizmente, trabalhos tocantes e fortes, histórias e personagens do seu cotidiano.
Eu não resisto às suas esculturas. Passei a comprá-las primeiramente dele e, a partir daí de colecionadores, leilões, galerias e em todos os lugares aonde elas estivessem disponíveis.
A Galeria Estação conseguiu reunir um belo acervo e agora chegou o momento de mostrá-las. Quem sabe a partir daqui elas passarão a morar em outras casas.
Germana Monte-Mór me contou que o André Parente, artista multimídia, conheceu o Nino e que tinha horas de gravação com ele. Por isso o convite para curar a mostra foi um processo natural. André editou 30 minutos desse material inédito que exibimos na exposição.
Nino, foi um privilégio conhecê-lo e à sua obra.
Obrigada
Vilma Eid
A Galeria Estação inicia agenda de 2016 com a exposição do artista cearense João Cosmo Felix (1920-2002), mais conhecido como Nino, e com o lançamento de um documentário inédito, de 30 min., sobre a trajetória do artista. Com curadoria de Andre Parente, a mostra conta com 20 trabalhos produzidos entre as décadas de 1980 e 1990. Abertura 15 de março às 19h Período 16 de março a 30 de abril 2016 Local : Galeria Estação Curadoria: Andre Parente Design Gráfico: Germana Monte-Mór Produção: Giselli Gumiero Fotos: João Liberato Assessoria de imprensa: Pool de Comunicação
Viver de graça é mais barato.
João Guimarães Rosa
Na casa de meus pais, convivemos desde cedo com obras de artistas populares como Mestre Noza, Nino, Ciça do barro cru e Ataíde, e ao mesmo tempo com artistas como Antonio Bandeira, Aldemir Martins (gravuras abstratas dos anos de 1950), Helio Rola, Aderson Medeiros, entre muitos outros. Como meu amigo Bené Fonteles em seu belíssimo livro Nem é erudito, nem é popular,1 considero que um dos pontos altos da arte e da cultura brasileira é o hibridismo entre o popular e a alta cultura na obra de artistas como Caetano Veloso, Hélio Oiticica, João Guimarães Rosa, Hermeto Pascoal, Glauber Rocha, Mário de Andrade, Villa-Lobos, Alfredo Volpi, só para citar alguns dos meus artistas preferidos.
Quando cheguei pela primeira vez à casa de Nino, em Juazeiro do Norte, em fevereiro de 1990, ele estava acocorado defronte da casa, com a camisa semiaberta e o chapéu de feltro. Devia ser umas 4 horas da tarde e o calor escaldante começava a diminuir. Quando atravessei a rua ele se levantou, apertou a minha mão e disse: “Estou lhe esperando desde ontem, o Aderson2 me mandou um recado”. A mulher dele, Perpétua, apareceu e me ofereceu água e um banco.
Nino, apelido de João Cosme Félix, nasceu em torno de 1920, em Juazeiro do Norte, onde veio a falecer, em 2002, em decorrência de problemas pulmonares. Nino morou praticamente toda a vida de adulto na rua General Sampaio, em um bairro popular. Foi casado duas vezes, sendo sua segunda esposa Perpétua Cecília da Conceição, ela também artista. Em comparação com o caráter quase calado e ensimesmado de Nino, Perpétua era mais expansiva e gostava de uma prosa. Nas diversas vezes que os visitei, em 1990, Perpétua não parava de interferir em nossas conversas. Durante as mais de três horas de gravações de vídeo que fiz na casa de Nino, a voz de Perpétua é ouvida ao fundo, como se ela tivesse uma necessidade premente de se fazer ouvir, de aparecer, de participar da conversa, de dar sua opinião.
Como a maioria dos artistas populares da região do Cariri, um dos maiores celeiros da arte popular brasileira, Nino teve outras profissões antes de se dedicar à escultura que o tornou conhecido, entre elas a de cortador de cana e a de ferreiro. Tendo percebido que esses trabalhos não podiam garantir seu sustento, resolveu tentar a sorte fazendo bonecos de madeira e lata, em particular carrinhos e macacos. A princípio ele age como um artesão que aceita encomendas, como a de fazer ex-votos e algumas figuras das festas folclóricas, os Mateus dos reisados, sem ainda possuir um estilo e um repertório próprio. Pouco a pouco, nos anos 1970, Nino já se destacava como um artista que possuía um estilo inconfundível, e com o tempo veio a conquistar entre seus pares, e em função do sucesso que seu trabalho adquiriu nas lojas, galerias e colecionadores de arte popular, o status de mestre.
A obra de Nino se diferencia facilmente pelo material empregado, (madeira e tinta), bem como pelo estilo do escultor, ou seja, pelas formas e cores. Geralmente, seu universo não tem nada a ver com o universo religioso e mítico. Trata-se, no mais das vezes, de homens e animais, que, à exceção do elefante, são parte do universo nordestino: crianças, mulheres, Mateus, soldados, cangaceiros, caçadores, vaqueiros, policiais; e animais como macacos, pássaros, peixes, cavalos, cachorros, onças, cobras, jacarés e elefantes.
Nino em geral usa as madeiras da região, imburana ou umburana de cambão e aroeira (muito raramente timbaúba). As madeiras são algumas vezes tratadas com gás, depois de cortadas, para matar o cupim. Mas o gás utilizado não previne a praga. O artista usa poucas ferramentas para esculpir. Em geral ele costuma desbastar o tronco com um facão e uma machadinha. Para finalizar, apenas às vezes utiliza o formão e a goiva. As formas empregadas por Nino são simples, e podem ser classificadas em dois tipos principais: no primeiro tipo, as peças ganham a forma de um homem ou de um animal esculpido: um Mateus, um menino, uma mulher, uma cabeça, um macaco, um elefante. Enfim, neste caso, a obra representa uma única figura, e se diferencia da dos demais artistas pela forma um tanto inclinada ou curva da madeira, já que ele aproveita ao máximo a forma do tronco, e fazendo o mínimo de intervenções possíveis, ou pelo emprego das cores. Nino costuma usar certas combinações de cores vibrantes. Poucas cores definindo certas áreas. Mas muitas vezes, sobre essas cores, ele dá umas pinceladas com preto e branco, criando uma textura sobre a cor, como se a cor tivesse sofrido um desgaste.
O segundo tipo de escultura realizado por Nino é absolutamente original. Neste caso, ele mantém o “toco” sem grandes intervenções em termos de entalhe. Ele é mestre em vislumbrar em um tronco, no qual às vezes são preservados os galhos, um conjunto de figuras, e toda uma situação de relação entre elas. Muitas vezes a parte de cima contém uma figura maior, e na parte de baixo são delineadas, em baixo-relevo, figuras que compõem um conjunto e uma narrativa. Poderia ser o contrário. Mas, em geral, o que está embaixo está em baixo-relevo, ao contrário da tridimensionalidade da forma da figura de cima. O uso da cor (ele usa tanto cores primárias como secundárias), a mistura entre figuras tridimensionais e figuras em baixo -elevo ou mesmo desenhadas, a relação, narrativa ou não, que se tece entre as figuras, que demanda muitas vezes do espectador que ele circunde a peça para ter uma visão do todo, fazem com que as esculturas de Nino possuam um estilo inconfundível.
Nem sempre a narrativa é clara para quem não está familiarizado com o universo do artista. Sem dúvida Nino tem explicações para todas as suas peças. Ele é um artista sujeito a muitas fabulações. Uma vez entrando em seu vocabulário, percebemos que há uma rede de relações interligando as diversas figuras da peça como um todo. Pode se tratar de uma caçada, e ao mesmo tempo uma caçada que está sob o controle de um policial que persegue ou observa o caçador. Pode ser uma brincadeira de reisado, pode ser algo que diz respeito à relação dos homens com os animais, pode ser algo que apela para a associação livre entre as figuras.
Tanto para as esculturas do primeiro como do segundo tipo, Nino tem uma explicação muito simples, que costuma ser reproduzida aqui e ali de formas distintas. Segundo Nino, o tronco de madeira já carrega em si, como que virtualmente, as figuras que dele o artista pode extrair. Todos os comentadores da obra de Nino destacaram isso, que o artista repete sem cessar. Mas quem exprimiu a ideia de Nino do modo mais simples e direto foi o poeta José Bandeira de Caldas, no poema “A morte de Seu Nino”, feito em homenagem ao artista quando de sua morte:
Na sua imaginação:
Um tronco de pau pedia
Parece que ele escutava
O que a madeira dizia
Um dizendo, o outro ouvindo
E terminava saindo
Como a madeira exigia.
A obra de Nino possui uma graça incomparável. Ela se apresenta como uma rede de elementos heterogêneos: a forma da madeira, que às vezes se revela como sendo uma parte de um tronco e às vezes a parte do tronco só é vista na parte de baixo da escultura; as figuras (elas são de três tipos: pintadas, em baixo-relevo ou tridimensionais); as temáticas; as narrativas; e finalmente as cores. Quando articulamos esses elementos múltiplos, percebemos que eles se combinam formando todo um universo em que as articulações entre os elementos podem fazer variar o sentido constelar da peça sem que possamos dizer qual o sentido ou a narrativa predominante. Cada espectador, em função do tempo que dedica a observar o trabalho (exatamente como em uma instalação), percebe, com o passar do tempo de sua observação, que seus movimentos em torno da peça fazem com que o sentido da obra se constitua e se destitua à medida que ele rearticula os elementos. O resultado final vai mudando, como se a obra tivesse um caráter constelar que não cessa de nos pedir novas articulações entre seus elementos.
Vejamos um exemplo. Na peça 011 e 011b (numero das fotos), há duas mulheres na parte de cima do tronco pilando alguma coisa. Elas se olham, pensam, conversam talvez. De um dos lados da peça, temos um menino que está chegando em casa e parece metido em travessuras. As meninas que brincam mais abaixo, o olham: seria um pique-esconde? Uma vontade de chamá-lo para brincar. Há vontade de brincadeira, isso é certo. Mais abaixo, compondo um quarto nível desde as duas mulheres que empunham o pilão, há outra criança. É um menino negro. Ele está animado e olha para as meninas. Talvez seja pequeno demais para entrar na brincadeira. Por que ele estaria isolado? Do outro lado da peça temos uma grande garça de pernas compridas. Ela observa uns pássaros amarelas que sobrevoam o céu sem nuvens logo abaixo das mulheres, que continuam seu trabalho de pilar a vida. Muito da obra de Nino é um processo de ruminação de coisas da vida. Cada gesto leva a outro gesto. Como nas culturas indígenas, nas esculturas de Nino, os animais são tão humanos quanto os humanos podem se apresentar como animais. Conheço uma peça de Nino em que um homem está sobre um cavalo ou um jumento. A peça é feita de forma que o rosto do homem e o do animal estão quase um em cima do outro. O curioso é perceber que parecem duas pessoas, com uma expressão muito semelhante, e interrogativa.
Na peça 006 e 006b, vemos na parte de cima um grande pássaro que baixa a cabeça para comer os frutos vermelhos da árvore. De cada um dos lados do tronco, há duas crianças. Uma delas leva um cesto na cabeça dentro do qual vemos como que os mesmos frutos vermelhos e redondos. Do outro lado, vemos um menino que sobe no tronco da árvore ao modo das pessoas que sobem nos coqueiros no Nordeste. Ele tenta certamente alcançar os frutos. Será que vai conseguir? Nessas duas peças, temos a predominância das crianças e dos pássaros. Em geral, as peças de Nino são divertidas e nos transmitem a ideia de felicidade, ou de uma certa “idiotia” no bom sentido, como se víssemos as coisas pela primeira vez, de modo que tudo é novidade, uma novidade que nos encanta.
Hoje, a obra de Nino integra a coleção de grandes colecionadores de arte popular, galerias e museus, como o Museu da Casa do Pontal (Rio de Janeiro),3 o Centro Cultural Dragão do Mar (Fortaleza), a Fondation Cartier Pour l’Art Contemporain (Paris), entre outros. A primeira exposição individual de Nino se deu na Galeria Pé de Boi, no Rio de Janeiro, em 1989. A presença e a participação de Nino nessa exposição contribuiu enormemente para seu sucesso. Na Mostra do Descobrimento (São Paulo, Parque do Ibirapuera, 2000) foram exibidas várias peças de Nino. Em 2001, a Pinacoteca de São Paulo realizou a exposição O essencial em estado bruto,4 reunindo, sob a curadoria de Dodora Guimarães, grande especialista da arte popular do Cariri, uma expressiva quantidade de peças (mais de sessenta). Em 2003, foi realizada uma imensa exposição póstuma em homenagem a Nino no Centro Cultural Dragão do Mar, na entrada do Memorial da Cultura Cearense, curada por Germana Coelho Vitoriano.5 Nino participou ainda de uma grande exposição realizada na Fondation Cartier, Histoires de voir (2012), que reuniu peças de artistas populares de Ásia, África, Europa e América.
Nino viveu de forma muito precária, mas a sua arte é, hoje, valorizada mundo afora. Longe dos grandes centros urbanos, os artistas populares acabam por se tornar eles próprios uma atração tão importante quanto as suas obras. Essa situação cria uma série de problemas, seja na relação deles com seus pares nas comunidades onde vivem, seja na relação com a instituição da arte e o mercado, de cuja dinâmica e de cujo modus operandi eles não possuem a menor consciência, e que, no entanto, pode vir a potencializar as forças ou não a força de suas obras. É verdade que, quando a obra de um artesão ganha o estatuto de arte, isso leva muitas vezes a um processo de individuação6 que faz com que ele se torne como que um ser privilegiado, e muitas vezes iluminado, pelo menos na comunidade na qual se insere. Isso não implica necessariamente uma transformação de seus modos e qualidade de vida.
A diferença entre arte e artesanato tem a ver com a singularidade das obras do artista, ao contrario dos objetos artesanais, cuja fatura é, no mais das vezes, uma replicação de padrões estéticos e formais criados e repetidos coletivamente. No entanto, a inserção desses artistas (na verdade de qualquer artista, popular ou não) no mercado de arte faz com que, em certos casos, eles passem a se repetir com o intuito de atender ao mercado, o que os leva a tomar seus estilos como padrões a serem repetidos, tornando-os artesões de si mesmo.
A arte popular se dá em geral fora dos centros urbanos, em comunidades que pouco utilizam a escrita e que não possuem políticas públicas. Muito frequentemente, na arte popular, admiramos o objeto, mas temos dele uma visão descontextualizada. Conhecemos seus potenciais estéticos, mas nem sempre conhecemos o imaginário coletivo que eles exprimem. Ainda que reconheçamos o estilo que caracteriza a obra de um artista, muitas vezes nos escapa seu valor ético, ou seja, o etos de um indivíduo e de uma coletividade, aquilo que diz respeito à origem de uma obra, bem como seu teor de verdade, ou seja, a que visão de mundo ela responde.
Por outro lado, esses artistas e seus espectadores muitas vezes desconhecem as redes de mobilização e legitimação sem as quais os objetos produzidos e apreciados por eles são valorizados do ponto de vista da arte e do mercado. Nesse sentido, penso que Germana Coelho Vitoriano7 expressa muito bem esse dilema ao se perguntar:Como va~o se construindo as fronteiras de legitimidade para os produtores dessa arte? Como se valorizam e como sa~o valorizados? Como esse novo mercado cria novas tenso~es? A ‘simples’ distinc¸a~o entre arte popular e artesanato apresentada por artesa~os descortina tenso~es decorrentes da relac¸a~o entres eles e os consumidores. Como isso foi se constituindo? Como esses mestres lidam com esse mercado? Como dialogam com os compradores? Como va~o compondo legitimidades? Como inventam ta´ticas e astu´cias diante dos desafios?”.
As redes de transformações da arte popular são uma das preocupações da Galeria Estação, uma vez que ela se destaca pelo seu papel pedagógico (em nenhum outro lugar vi essa preocupação na discussão das obras, a criação publicações e de um minicentro de documentação, bem como a realização de atividades pedagógicas resultantes do encontro do curador com o público) de incentivar toda uma série de aproximações entre os atores da rede que envolve a arte popular, do artista ao público, em uma tentativa de produzir uma reflexão sobre esse tipo de arte, ainda pouco valorizada no Brasil.
André Parente
André Parente é artista, professor e pesquisador da arte. Obteve seu doutorado em Paris sob a orientação de Gilles Deleuze, em 1987. Entre 1976 e 2015 vem realizando obras (em geral filmes, vídeos e instalações audiovisuais), exposições e curadorias apresentadas no Brasil e no exterior. É autor de mais de uma dezena de livros. É artista da Galeria Jaqueline Martins.
1 Fonteles, Bené. Nem é erudito, nem é popular. Arte e diversidade cultural no Brasil. Rio de Janeiro, ECO-UFRJ, 2010.
2 Aderson Medeiros é um conhecido desenhista, pintor e escultor cearense contemporâneo. Aderson possui uma imensa coleção de ex-votos, uma vez que os utiliza em suas obras. Foi em conversas com Aderson que decidi fazer dois documentários audiovisuais: um sobre ex-votos, em Canindé, em 1976, e outro sobre Nino.
3 Mascelani, Ângela. Museu do Pontal, o mundo da arte popular brasileira. Rio de Janeiro, Museu Casa do Pontal, 2006.
4 Nino, o essencial em estado bruto. Curadoria e organização de Dodora Guimarães. Catálogo de exposição, Pinacoteca de São Paulo, 2001.
5 Vitoriano, Germana Coelho. A invenc¸a~o da arte popular em Juazeiro do Norte. Dissertac¸a~o de mestrado apresentada em Histo´ria Social, Universidade Federal do Ceara´, 2004. Orientação do professor Francisco Re´gis Lopes Ramos.
6 Embora simplificando muito a questão, podemos dizer que sem indivíduo não há autor, e, sem autor, não podemos falar nem em modernidade. Antes do moderno, tudo era de certa forma popular, ou melhor, a arte se inseria em uma tradição, o que trazia para o primeiro plano seu valor etnográfico.
7 Vitoriano, Germana Coelho, op. cit.
A Galeria Estação abre o ano com a individual do cearense João Cosmo Felix (1920-2002), o Nino, e o lançamento do documentário “Nino” dirigido por André Parente – que também assina a curadoria da mostra. A exposição reúne 20 trabalhos produzidos entre 1980 e 1990, deste artista que viveu de forma muito precária, mas cujos trabalhos, hoje, são reconhecidos mesmo fora do País.
Nino que antes de se tornar escultor, fora ferreiro e cortador de cana e, para garantir melhor o seu sustento, trabalhava como artesão, fazendo peças sob encomenda. Nos anos 70 seu estilo já era inconfundível e Nino conquistou o status de mestre quando seu trabalho começou a figurar entre as galerias e os colecionadores de arte popular.
Utilizando poucas ferramentas (facão, machadinha e, por vezes, um formão e uma goivapara finalização) as formas esculpidas são simples. Há peças que ganham a forma de uma figura única - homem ou animal -e outras que trazem uma narrativa, sempre com o uso de cores vibrantes e pouca intervenção no entalhe.
Segundo o curador, as peças se apresentam como uma rede de elementos heterogêneos que se misturam para formar objetos que variam de acordo com a perspectiva do espectador sem que se possa definir qual o tema predominante. “São figuras pintadas, em baixo-relevo ou tridimensionais nas quais o tronco original pode se revelar ou estar escondido e ser visto apenas na parte de baixo da madeira esculpida”.
Parente destaca ainda queo uso da cor, tanto primárias como secundárias, a mistura entre figuras tridimensionais e figuras em baixo-relevo ou mesmo desenhadas, além da relação que se tece entre as figuras são aspectos que demandam ao espectador circundar as obras para captá-las integralmente.
Nino sempre dizia que o tronco de madeira carregava em si as figuras que o artista pode extrair dele. Para o curador, a obra de Nino se diferencia facilmente pelo material empregado, madeira – geralmente da região – e tinta, bem como pelo estilo do escultor, ou seja, pelas formas e cores. “Geralmente seu universo não tem nada a ver com o universo religioso e mítico, trata-se, no mais das vezes, de homens e animais, que, à exceção do elefante, são parte do universo nordestino”, completa.
João Cosmo Felix (Nino) – 1920 Juazeiro do Norte – 2002
A obra de Nino integra a coleção de grandes colecionadores de arte popular, galerias e museus, como o Museu Afro (São Paulo), o Museu da Casa do Pontal (Rio de Janeiro),3 o Centro Cultural Dragão do Mar (Fortaleza), a Fondation Cartier Pour l’Art Contemporain (Paris), entre outros. A primeira exposição individual de Nino se deu na Galeria Pé de Boi, no Rio de Janeiro, em 1989. A presença e a participação de Nino nessa exposição contribuiu enormemente para seu sucesso. Na Mostra do Redescobrimento (São Paulo, Parque do Ibirapuera, 2000) foram exibidas várias peças de Nino. Em 2001, a Pinacoteca de São Paulo realizou a exposição O essencial em estado bruto,4 reunindo, sob a curadoria de Dodora Guimarães, grande especialista da arte popular do Cariri, uma expressiva quantidade de peças (mais de sessenta). Em 2003, foi realizada uma imensa exposição póstuma em homenagem a Nino no Centro Cultural Dragão do Mar, na entrada do Memorial da Cultura Cearense, curada por Germana Coelho Vitoriano.5 Nino participou ainda de uma grande exposição realizada na Fondation Cartier, Histoires de voir (2012), que reuniu peças de artistas populares de Ásia, África, Europa e América.
Serviço:
Nino
Curador: André Parente
Abertura: 15 de março, às 19h (convidados)
Período da exposição: De 16 de março a 30 de abril de 2016, de segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h - entrada franca.
Galeria Estação
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