Zé do Chalé
Pôxa! Começo a escrever este texto chateada! Não conheci Zé do Chalé. Ele morreu em 2007, aos 105 anos, e eu não o conheci.
Eu já frequentava bastante o Nordeste. Mas sempre aquelas viagens malucas. Chegava à noite em Recife, onde fazia meu quartel-general, no dia seguinte pegava um carro e ia para algum lugar, de lá para outro e mais outro e mais outro, dormindo em lugarejos, hotéis de beira de estrada. Quando chegava em uma capital como Maceió, por exemplo, eu ficava mais um dia e meu destino rapidamente era o aeroporto. Tenho visto muitas coisas. Tenho conhecido muita gente. Mas não conheci o Zé do Chalé! Esse gênio eu perdi. Foi uma falha! Eu sabia dele. Ele morava em Aracaju, Sergipe, nem tão difícil de chegar...
Não lembro bem se a primeira vez que vi um trabalho dele foi com a Maria Amélia e o Dalton ou com o Celso Brandão. De qualquer modo, ambos têm uma coleção invejável, além de tê-lo conhecido (tenho inveja das duas coisas... inveja branca, claro!).
Lembro bem da disputa que as obras dele provocavam. Também! Começou a esculpir os Troféus, como ele os denominou, aos 89 anos. Era briga mesmo. Uma vez comprei um através de uma amiga, que mandou para São Paulo através de não sei quem, e a obra foi parar nas mãos de uma terceira pessoa. Não perdoei! Foi bem difícil aceitar ficar sem a escultura. Era assim. Todos nós enxergávamos a qualidade excepcional daquele trabalho e a pequena produção gerava a disputa.
Não foi fácil decidir fazer uma exposição comercial. Tenho vontade de guardar todos os trabalhos para mim, mas dessa maneira o nome e a obra desse grande escultor continuariam na escuridão, o que não considero justo nem com ele nem com os amantes da arte. A parceria com a Galeria Karandash foi fundamental. Eles têm um grande acervo, toparam mostrar e disponibilizar. Sinal de pura generosidade!
A admiração do Cauê Alves pela obra do Zé do Chalé foi imediata, e com o convite para que fosse ele o curador continuamos nosso movimento, permanente, em busca da aceitação de que a arte não tem fronteiras.
Vilma Eid
Zé do Chalé | escultor do vazio Exposição de 15 de abril a 30 de maio de 2013 Curadoria Cauê Alves
Zé do Chalé: escultor do vazio
Na origem do que chamamos hoje de obra de arte, ou seja, nos trabalhos conhecidos como os mais antigos feitos pelo homem, há um fundamento teológico. Walter Benjamin, no seu famoso ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, afirmou que o valor de culto, mesmo nas formas mais profanas de culto ao belo, está ligado à concepção de uma obra como instrumento mágico. Foi só ao longo da história da humanidade que o seu valor de exposição superou o valor de culto, o que atribuiu valores inteiramente novos aos trabalhos de arte.
As obras de Zé do Chalé (José Cândido dos Santos, Porto das Folhas, SE, 1902 – Aracajú, SE, 2008] retomam com espontaneidade essa origem mágica da arte. Elas são realizadas por um artista autodidata que produziu esculturas seguindo as orientações divinas. Segundo Zé do Chalé, foi Deus que lhe deu o dom e a incumbência de realizar as peças. Ao mesmo tempo ele assume que sua inspiração vem de sua cabeça, de imagens interiores e sonhos. De origem indígena Xocó, da Ilha de São Pedro, em Sergipe, sua religiosidade estava atravessada por um sincretismo das tradições e simbologias indígena e católica, numa mescla incrível entre o sagrado e o profano.
Apesar de ser um católico praticante, suas peças não chegam a ser sacras, no sentido de serem elaboradas para a liturgia católica. Ao contrário, elas são inspiradas por uma vontade ou sentimento religioso genérico que não visa a produzir trabalhos destinados ao culto e às cerimônias, mas eles mesmos acabam sendo objetos de culto. Essas esculturas não representam verdades e dogmas da fé. As obras, assim, escapam ao poder do padre da igreja porque estão assentadas na força particular do realizador e não na doutrina católica. Elas até podem elevar o espírito daqueles que as contemplam, num sentido bastante amplo, como aquele do benzedor e do pajé, mas a sua força se funda antes no valor de exposição, em sua beleza e autonomia, do que no valor de culto.
Grande parte da produção de Zé do Chalé são miniaturas e frontões de igrejas e capelas, algumas se parecem com ostensórios, mas em geral elas se aproximam de troféus e taças, tal como o artista se referia aos trabalhos. Num formato preponderantemente vertical, suas esculturas possuem diversas formas recortadas que culminam em geral numa ponta fina, alta e esguia, numa espécie de minarete que aponta para o céu. Típico da arquitetura mulçumana, o minarete é o lugar de onde o povo é convocado para as orações. Mas no interior do trabalho de Zé do Chalé, eles parecem se relacionar com pontas de flechas e lanças, instrumentos de caça indígena. Ocorrem também muitas formas geométricas e elementos figurativos, como estrelas, sol, lua, pássaros (Espírito Santo), coração (Sagrado Coração), coroa e rosáceas góticas. Há inclusive uma das peças que se assemelha a um candelabro judaico, mas os símbolos religiosos como cruzes não deixam dúvidas sobre a relação com o cristianismo. Entre os detalhes de sua produção que merecem destaque devido à força expressiva estão as correntes feitas a partir de um único tronco e sem emendas.
Nos primeiros trabalhos de Zé do Chalé surgiram cruzes e ex-votos presos em garrafas, numa espécie de colagem de materiais em que já apareciam espaços vazios. Mas o mais admirável em sua obra são os espaços vazios esculpidos. Há esferas dentro de colunas e cilindros ocos elaborados a partir de um único tronco, uma esfera dentro de outra esfera vazia. A representação do vazio possui muito da experiência espiritual. É como se a matéria bruta da madeira, o ponto de partida finito do escultor, conseguisse se transmutar e ir além de sua materialidade e finitude, assim se aproximando do infinito. O espaço vazio é algo que não é totalmente pleno, não possui limites e contornos, e portanto é impalpável. O único modo de visualizar o vazio é cercá-lo de cheios, e é isso que Zé do Chalé faz em sua obra. Ele consegue lidar com a ausência com a mesma propriedade com que trabalha com a presença. Ou melhor, ele revela que há em toda presença uma ausência que a sustenta por dentro.
Em algumas das obras há um vazio interior, um centro em que a falta de matéria, que seria o negativo, adquire uma positividade. É um vazio significativo na medida em que não é apenas um vácuo, um invisível, uma carência do pensamento, mas possui um vínculo com o divino presente nas coisas. Fisicamente o vazio está lá, mas ele alude a um mundo metafísico, que está para além da física e da natureza visível do mundo. O vazio que Zé do Chalé esculpe está suspenso no ar, como se não tocasse o chão. Há algo de mental nele. Não por acaso o artista declarou em vida: “A minha inspiração vem do cérebro. [...] Eu faço tudo sem desenhar, está tudo na minha cabeça. O meu juízo é dado por Deus”.[1] Desse modo o conceitual está plenamente ligado ao místico em Zé do Chalé. A contemplação presente em sua obra é essa mesma de concentração em coisas divinas, aplicação da mente em abstrações, uma espécie de reflexão e meditação sobre o infinito e o incomensurável.
Talvez o que estimulasse Zé do Chalé a criar as suas obras fosse exatamente essa possibilidade de se aproximar de Deus, uma vez que o ato de criar possui algo de divino. Para o artista, foi Ele quem criou tudo, Deus é o princípio absoluto, responsável pela origem do universo e pelas leis que o regulam. Claro que essas questões estão em seu trabalho no campo simbólico. O modo mais instigante que ele encontrou para apresentar isso foi a partir do vazio.
O crítico de arte Guy Brett já abordou a presença do vazio na arte, especialmente a atração de vários artistas do pós-guerra pela noção de vazio: “Pode-se perceber um vetor internacional conectando artistas como Klein, Manzoni, Fontana, Takis, Medalla, Soto,Tobey, Newman, Cage, os irmãos Campos, Lygia Clark, Oiticica, Camargo, Houédard, Li Yuan-chia e, é claro, Mira Schendel. O vetor conecta práticas diversas, da pintura à arte conceitual, da poesia à música”.[2]
O vazio é justamente esse fundo primordial e originário. Tal como o silêncio que possibilita a música, o vazio é aquilo que está no interior do trabalho do artista, como se fosse o avesso por dentro do direito, ou o invisível que permite a visão. Num sentido geral, é próprio de toda a tradição da escultura, mesmo a clássica, lidar com cheios e vazios, côncavos e convexos, luzes e sombras. Mas o modo como a noção de vazio aparece em Zé do Chalé possui uma singularidade, algo que ao mesmo tempo o conecta e o distingue desse vetor internacional citado por Guy Brett.
E o conecta porque, mesmo que seu trabalho seja escultórico, há algo de imaterial nele, uma alusão a um vazio, uma ausência que por meios bem diferentes poderia ser aproximada da noção de zona imaterial de sensibilidade de Yves Klein, que perseguiu a vida toda o vazio pleno, ou ainda da valorização do silêncio em John Cage. Talvez até de um trabalho como o de Nelson Felix. Mas o afasta na medida em que há um isolamento de sua produção devido a uma circunstância histórica e de vida, além da forte presença do catolicismo em sua obra. As esculturas de Zé do Chalé não possuem vínculos diretos com a tradição oriental e budista, e nenhum contato com a arte experimental dos anos 1960.
Na verdade sua produção não consta nos livros de história da arte, está literalmente fora da história, como a de milhares de outros artistas que produziram o que se convencionou chamar de “arte popular”. Entretanto, as tradições de origem moderna, popular ou erudita estão direta ou indiretamente presentes na arte contemporânea. A história nos mostrou que classificações estanques e definições fechadas do que seja ou não arte contemporânea não possui mais correspondência com a realidade. Ao menos desde a Pop art se tornou complicada uma definição excludente entre o popular e o erudito. Não é de hoje que as fronteiras estão cada vez mais borradas. Por isso Zé do Chalé também pode ser compreendido como um artista contemporâneo, no sentido temporal do termo e também devido a sua atuação livre de amarras com a tradição.
O fato de ele ser religioso não o torna tão diferente. Apenas para lembrar alguns nomes, Mondrian e Kandinsky, por exemplo, estão entre os que são profundamente espiritualizados, e seus trabalhos não podem ser reduzidos a questões formais. Já entre os contemporâneos, Joseph Beuys talvez seja o mais célebre dos artistas xamãs, e a relação com o divino ou o espiritual não está fora do horizonte de muitos outros desses artistas. Mira Schendel também foi uma artista que se defrontou com o espiritual na arte, e o modo como elaborou o vazio forma um campo vasto de investigação de questões filosóficas. Em sua obra ela buscou romper deliberadamente com a dicotomia clássica entre materialismo e espiritualismo.
Portanto, não é a espiritualidade ou a religiosidade o que distingue Zé do Chalé e o coloca em outra tradição que não a da arte contemporânea, e sim uma noção de difícil definição: “popular”. Geralmente o termo popular é aplicado pelos membros de outras classes sociais para definir o trabalho da população mais pobre, designada como povo. Muitas vezes o popular é identificado ao regional e ao tradicional, ou então ao folclore, aquilo que é vítima da modernidade. Outras vezes o popular é romantizado a ponto de ser compreendido como puro, o primitivo não contaminado pela vida urbana, portanto mais próximo da natureza e por isso anônimo, sem assinatura. Mas em geral trata-se sempre da arte dos dominados. Entretanto, devemos evitar a oposição entre o dominante e o dominado como categorias estanques e isoladas, como totalidades antagônicas. Segundo Marilena Chaui, não se trata de “[...] abordar a Cultura Popular como uma outra cultura ao lado (ou no fundo) da cultura dominante, mas como algo que se efetua por dentro dessa mesma cultura, ainda que para resistir a ela”.[3]
II
Sem querer construir uma relação de causa e efeito entre vida e obra, como se a obra de Zé do Chalé fosse o produto ou o resultado de uma vida, é fundamental conhecermos algo sobre a história desse artista. Na verdade, só nos interessa a vida de Zé do Chalé porque sua obra nos provoca. É o seu trabalho de arte que confere um sentido a sua vida, e sua obra parece ter exigido a vida que ele levou para que fosse produzida.
Zé do Chalé foi um pescador, filho de mãe indígena, cresceu numa aldeia Xocó, na Ilha de São Pedro, no município Porto das Folhas, em Sergipe, local de antigas missões jesuíticas. Depois do século XIX os capuchinos se instalaram entre os Xocó, onde construíram a capela de São Pedro e catequizaram grande parte dos índios. Zé do Chalé viveu na aldeia por cerca de quarenta anos, até ser expulso por ameaças de fazendeiros, coronéis associados aos donos de cartório, que queriam ocupar as terras indígenas da aldeia Ilha de São Pedro. O povo Xocó lutou muitos anos antes de conseguir na Justiça, bem mais tarde, em 1991, a posse de suas terras. Nos tempos em que Zé do Chalé viveu na aldeia, já havia esculpido muita canoa em madeira. Depois de algumas passagens por povoados e cidades ao redor do rio São Francisco, tanto do lado sergipano quanto do alagoano, lugares como Limoeiro, Vila Santana, Ilha de Madalena e Penedo, ele se estabeleceu com a família em 1958 em Aracaju, longe de sua história e de seus antepassados, apesar de visitar constantemente a aldeia. Ou seja, ele foi submetido a uma perda cultural, a invalidação de muitos de seus conhecimentos e valores. Mas para apreendermos o seu trabalho não precisamos recorrer à noção de folclore, uma vez que ele não teme a vida urbana de Aracaju – na verdade, foi lá que ele surgiu e nem por isso teve que abandonar sua origem Xocó.
O apelido Zé do Chalé veio de sua habilidade manual de construir chalés, casas de madeira geralmente com telhados de duas águas cobertas com sapê, oficio que desenvolveu em Aracaju. Na cidade, estabeleceu-se na periferia e foi trabalhar na construção civil, montou portas, janelas e telhados de madeira. Ao aprender a profissão de carpinteiro, logo executou serviços com melhor acabamento do que faziam seus chefes e professores. Trabalhou como marceneiro, pedreiro e como mestre de obras até os 89 anos, quando se aposentou.
Foi apenas depois dos 90 anos de idade, por volta de 1992, quando já não possuía força para a construção civil, mas estava bem de saúde e lúcido, que Zé do Chalé passou a se dedicar à escultura. No começo fazia troféus para os campeonatos de futebol dos filhos. Mas ele também já havia construído todos os móveis de sua casa, fazia tanto peças indígenas quanto os móveis tradicionais dos brancos, inclusive um oratório de isopor que depois foi esculpido em madeira, além de molduras dos santos que havia nas paredes de sua casa.
As esculturas lhe renderam um dinheirinho para complementar a renda. Viveu até os 105 anos trabalhando, ou seja, produziu essas peças por cerca de quinze anos. Nos últimos anos de vida, um de seus oito filhos, Zacarias dos Santos, o ajudou na parte mais dura do trabalho, lixando e dando acabamento às esculturas. Mas a força de suas obras está menos na perfeição do que na elaboração e inventividade de suas peças. Mais tarde o filho passou a assinar as iniciais JC em algumas delas. Entretanto, Zé do Chalé nunca assinou nenhum de seus trabalhos. Não porque ele os concebia como criações anônimas, coletivas ou de Deus, como se não houvesse um sujeito por trás de tudo, mas porque nunca pôde aprender a ler e a escrever.
III
Descoberto por acaso pelo fotógrafo Celso Brandão em uma visita à aldeia da Ilha de São Pedro, quando viu algumas peças que o artista havia dado de presente aos conterrâneos, Zé do Chalé é descrito por Brandão como um sujeito simples e elegante, um lorde, que sabia muitas histórias dos Xocó, tradição oral herdada dos pais. Ele cantava muitas cantigas, recitava orações e poemas em versos sempre de cor. Possuía ótima memória, e todo o seu trabalho era feito a partir de lembranças, sem modelos, desenhos ou padrões prévios a imitar. Para isso usava os instrumentos tradicionais, entre eles formão, grosa, niveladores, serrote e martelo. Zé do Chalé recorreu a muitos tipos de madeira, como sucupira, cedro, mulungu, umburana, pinho, maçaranduba, jaqueira, paraíba, muitas da reseva indígena. Também comprava madeiras e compensado e reaproveitava outras.
Realizou poucos trabalhos ao longo de sua curta trajetória como escultor, entre eles alguns barcos e figuras humanas (carrancas e índios) em madeira. Mas as obras mais relevantes de Zé do Chalé são as que justamente vão além da matéria da madeira, e com isso expressam o indizível, as fantasias e visões mágicas que ultrapassam o discurso e a representação. Trata-se da expressão do numinoso, da compreensão de modo alargado da complexa relação entre arte e religiosidade que não se restringe aos ritos oficializados das cerimônias e das religiões estabelecidas. Mais do que isso, pode-se dizer que o trabalho de arte de Zé do Chalé, por não depender de uma crença transcendente como a religião, pode proporcionar uma experiência plena, seja o sentimento religioso espontâneo, seja uma experiência estética significativa. E essas experiências surgem justamente de sua habilidade em esculpir o vazio.
Cauê Alves
BIBLIOGRAFIA
BRETT, GUY. “Ativamente o vazio”. In: SALZSTEIN, Sônia. (org.), No vazio do mundo. São Paulo: Fiesp/ Marca D’Água, 1996.
CHAUI, Marilena. Conformismo e resistência. Aspectos da cultura popular no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CHAVES, Wagner Diniz (org.). Troféus: geografia simbólica de Zé do Chalé. Maceió: Edufal, 2012.
FROTA, Lélia Coelho. Pequeno dicionário da arte do povo brasileiro, século XX. Rio de Janeiro, Ed . Aeroplano, 2005, p. 234.
RAFAEL, Ulisses Neves (org.). Zé do Chalé: o antigo dono da flecha. Rio de Janeiro: IPHAN, CNFCP, 2007.
[1]Depoimento de Zé do Chalé dado a Godelieve e publicado no texto de Etienne Samain, “Zé do Chalé, uma arte de ser gente” in: CHAVES, Wagner Diniz (org.) Troféus: geografia simbólica de Zé do Chalé. p. 10.
[2] BRETT, GUY. “Ativamente o Vazio”. in: SALZSTEIN, Sônia. (org.) No vazio do mundo. São Paulo: Fiesp/ Marca D’Água, 1996, p. 510
[3] CHAUI, Marilena. Conformismo e Resistência. Aspectos da cultura popular no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.24
[3] CHAUI, Marilena. Conformismo e Resistência. Aspectos da cultura popular no Brasil. [Conformism and Resistance: Aspects of Popular Culture in Brazil]
São Paulo: Brasiliense, 1986. page 24
ZÉ DO CHALÉ: escultor do vazio
NA GALERIA ESTAÇÃO
Abertura: 15 de abril, às 19h - Até 30 de maio de 2013
Com curadoria de Cauê Alves, a Galeria Estação, com o apoio da Galeria Karandash, de Maceió, traz para São Paulo as raras obras do escultor Zé do Chalé (Neópolis, SE, 1902 / Aracajú, SE, 2008). As 25 esculturas de madeira, ou troféus, como o próprio artista as chamava, trazem um panorama de sua produção, grande parte formada por miniaturas e frontões de igrejas e capelas, com símbolos como cruzes, estrelas, sol, lua, pássaros, coração, etc.
Mais uma vez a Galeria Estação tem um crítico de arte contemporânea analisando uma obra que, erroneamente, se convencionou chamar de “arte popular”. Para Alves, este é o termo atribuído à produção artística que não consta nos livros de história da arte e que carece de uma definição que exprima seu real significado. Segundo o curador, ainda, com as tradições modernas cada vez mais presentes na arte contemporânea, a fronteira entre o erudito e o popular torna-se tênue e cada vez menos marcante. “Zé do Chalé também pode ser compreendido como um artista contemporâneo, no sentido temporal do termo e também devido a sua atuação livre de amarras com a tradição”, completa.
Autodidata, Zé do Chalé afirmava que a sua criação era divina e que Deus lhe havia dado o dom e a incumbência de esculpir. Segundo o artista, as imagens vinham de sua cabeça, de sonhos: “a minha inspiração vem do cérebro. [...] Eu faço tudo sem desenhar, está tudo na minha cabeça. O meu juízo é dado por Deus”, afirmava o artista. “Sua religiosidade estava atravessada por um sincretismo das tradições e simbologias indígenas e católicas, numa mescla incrível entre o sagrado e o profano”, conta o curador.
Outro traço marcante é o formato predominantemente vertical de suas esculturas, geralmente culminando em pontas finas, altas e esguias. De maneira singular, Zé do Chalé criava essas esculturas a partir dos espaços vazios, método usual entre alguns escultores. A força da sua obra está na elaboração e inventividade das peças, como as correntes feitas a partir de um tronco sem emendas. Cauê Alves vê na produção do artista um isolamento devido a uma circunstância histórica e de vida, além da forte presença do catolicismo. “Não existe nenhuma ligação direta com a tradição oriental, nem tampouco nota-se contato com a arte experimental dos anos 1960”. Ainda segundo o curador, a obra de Zé do Chalé traz a harmonização da herança ancestral indígena e a modernidade da vida urbana.
Sobre Zé do Chalé
José Candido dos Santos nasceu em Neópolis, SE, e era de origem indígena Xocó, da Ilha de São Pedro, também em Sergipe. Ele sempre cultivou um forte vínculo com a comunidade do Rio São Francisco, que visitava anualmente e onde trabalhou quando jovem como carpinteiro. O apelido é devido ao seu vasto trabalho como mestre de obras. Zé era autodidata e começou a esculpir aos 89 anos, quando se aposentou da construção civil, mas ainda tinha saúde e lucidez. Descoberto por acaso pelo fotógrafo Celso Brandão, Zé esculpiu até sua morte, em 2008, aos 105 anos, deixando uma pequena, mas expressiva produção de esculturas. Todas, fruto da imaginação de um construtor de casas que ultrapassava os limites da habitação real para criar edifícios oníricos ou “troféus”.
Serviço:
Zé do Chalé - Esculturas
Abertura: 15 de abril, às 19h (convidados)
Até 30 de maio de 2013, de segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h - entrada franca.
Galeria Estação
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Fone: 11.3813-7253
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