encerrado
13.11.2012 a 19.12.2012
Galeria Estação R. Ferreira de Araújo, 625 - Pinheiros, São Paulo - SP, 05428-001 | São Paulo - Brazil

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Transcursos Exposição de 13 de novembro a 19 de Dezembro de 2012 Curadoria Tiago Mesquita

curador

Sombras


Tiago Mesquita


Aline van Langendonck é uma artista da linha. Até aqui, conhecia melhor suas gravuras. Feitas com figuras reconhecíveis traçadas da maneira mais simples possível. Apareciam cadeiras, casas, objetos descritos quase como logotipos. Odesenhoé econômico sem muitos adjetivos. Em um trabalho, a artista descobre uma forma de mostrar a mesma cadeira de frente e de costas usando o mesmo desenho. Para que fosse convincente, a mancha gráfica aparecia de uma forma quando de frente e de outrade costas.


O desenho de tão simples, muitas vezes, é ambíguo. Víamos essas cadeiras como manchas deformadas e planas. Poderiam ser vistos como uma tentativa de sugerir ilusão de profundidade ou como uma mancha chapada. No desenho de uma casa vista de cima, Aline, sintetiza a figura ao ponto de transformar a planta em um esquema de formas geométricas justapostassemprofundidade. Vemos ao mesmo tempo a casa e uma estrutura linear quase abstrata.


As figuras sugerem deformação do ponto de vista. Artistas maneiristas do século XVI, muitas vezes recorriam a procedimentos pouco usuais de desenhar a figura e planejar o espaço de suas pinturas. Torna-se comum distorcer a forma ou as proporções. Utilizam a ideia como um expediente de recrudescimento da ilusão.


No caso das gravuras de Aline, essa distorção da forma, aponta para o lado oposto, para uma imagem que elimina o seu caráter ilusionista e nos entrega seus truques.


Nos trabalhos recentes de Aline, notamos que o seu interesse não é em aprimorar a ilusão, mas mostrar as imagens como formas de apreensão frágil. Uma descrição toda mediada por imitantes que mal sabem tomar o lugar do que é imitado. Um olhar que apreende o que perde.


Nesta exposição, ela mostra monotipias, esculturas, cadernos e um vídeo. As esculturas são objetos; escadas. Mais do que objetos para escalar, são objetos de olhar através. Que mostram como a nossa relação com a visão é mediada por outros filtros, contaminada por outras lentes. Entre um degrau e outro, através de uma ripavertical e outra as imagens estão todas marcadas por linhas e faixas. A vista é enquadrada, a entrada de luz e a percepção dos objetos aparecem por detrás desses obstáculos que emolduram alguma coisa e se sobrepõe a outras. Vemos de relance entre uma coisa e outra.


O vídeo Rio Grande é um plano sequência. Filmado no interior de um trem, focaliza a vista através de uma janela com uma faixa no meio. A paisagem passa rápido. É interrompida pelas marcas na janela e o balanço do vagão. O enquadramento é fechado, o contraste entre a luz que vem de fora e a escuridão do interior do trem é forte. Como uma modulação de luz, o campo se abre e se fecha. Nunca chegamos a uma imagem limpa do espaço exterior, nem no desembarcar do trem. Enxergamos uns vestígios. A paisagem vai se modificando não só sob a influência do dispositivo de captação de imagem, mas também pela contaminação de outros intermediários. O vidro, a sujeira, os modos de luz. É como se a artista filmasse todas as contaminações de qualquer ponto de vista, que desmente a fidelidade do vídeo.


A série de monotipias é feita de formas brancas que surgem por trás de faixas pretas em diferentes proporções. Como no filme, o branco aparece como um campo menor ou maior surgir por de trás de uma estrutura opaca, uma luz que oscila por trás de um obstáculo à nossa visão. Os campos de branco aumentam e diminuem, modificando a relação com a faixa escura. Cada monotipia parece um frame de filme. Um pedaço de celuloide. É como se o desenho nos mostrasse a mesma imagem através de lentes diferentes. Uma paisagem feita em cinemascope, outra com uma lente fechada. Só que essas formas de distorção não são modos mais convincentes de produzir ilusão. São só ilusão. Tanto que não vemos figura nenhuma nas monotipias, mas relações simples de luz e sombra. Nas imagens de Aline van Langendonck, o mundo nunca chega fácil pra nós, só as suas sombras. 

RELEASE

Transcursos – De Aline van Langendonck


Paralela à exposição de Julio Martins da Silva acontece, no 1° andar da galeria, a exposição de Aline van Langendonck, artista que participou do programa de Residência Artística do Ateliê Acaia, em 2012, que recebe apoio da Galeria Estação. Com curadoria de Tiago Mesquita, a mostra Transcursos reúne um conjunto de trabalhos que versa sobre as possibilidades de relação de enquadramentos durante o deslocamento no espaço.


A mostra reúne o vídeo Rio Grande realizado nas linhas de trem da CPTM em São Paulo; uma série de monotipias nas quais uma faixa preta compõe o espaço de diferentes maneiras, além de sugerir um desdobramento de imagens em sequencia com quebras de linearidade; cadernos de desenho que investigam variações de formas de objetos cotidianos; objetos de madeira instalados entre o vão da sala expositiva; além da documentação do processo de pesquisa e trabalho relacionada ao período da residência nos ateliês do Instituto Acaia (mais informações www.acaia.org.br).


Exposição: JULIO MARTINS DA SILVA


Abertura: 13 de novembro, às 19h (convidados)


Até 19 de dezembro de 2012, de segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h - entrada franca.


Galeria Estação


Rua Ferreira de Araújo, 625 – Pinheiros SP


Fone: 11.3813-7253


Informações à Imprensa


Pool de Comunicação – Marcy Junqueira


Contatos: Marcy Junqueira e Martim Pelisson


Fone: 11. 3032-1599


marcy@pooldecomunciacao.com.br / martim@pooldecomunicacao.com.br

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