encerrado
25.03.2024 a 30.04.2024
Rua Ferreira de Araújo, 625 - São Paulo, Brasil - 05428-001 | São Paulo - Brazil

CENOGRAFIA

INTRODUÇÃO

O Renato nos escolheu. Sim, Renato escolheu ser representado pela Galeria Estação, e esta é a sua primeira individual conosco.
Talentoso, carismático, imediatamente conquistou toda a nossa equipe. Sua prosa reflete sua obra. Flui dissertando sobre um mundo que vai do real ao imaginário, cativando o ouvinte e deixando a sensação de "quero mais".
A escolha da Ana Carolina Ralston foi dele. Acatamos, concordamos e, como há tempos queríamos realizar um projeto com a curadoria dela, o momento estava ali.
Renato é tão primoroso e detalhista que construiu uma maquete para nos mostrar como pensava a exposição. Nos convenceu a ocupar dois andares da galeria para mostrar sua dissertação visual. O prazer do trabalho conjunto, Renato e Galeria Estação, apresentamos a vocês agora.
Esperamos que vocês sintam a mesma energia leve e alto-astral que nos conduziu até aqui.

Vilma Eid

curador

Renato Rios: O elefante e a safira

O mal está apenas guardando lugar para o bem.
O mundo supura é só a olhos impuros.
Deus está fazendo coisas fabulosas.
Para onde nos atrai o azul? – calei-me.
Estava-se na teoria da alma.

João Guimarães Rosa (“Tutaméia – Terceiras Estórias”)


Uma robusta elefante fêmea adentra o quarto. De forma majestosa e descomplicada, posta-se no ambiente, ocupando quase sua totalidade. Na esguia tromba, o animal segura com delicadeza uma safira reluzente do tamanho de uma maçã, que irradia com tanta potência sua cor que torna azul tudo que a rodeia. Composta de pinceladas brancas e contornada por um fino aro roxo, a pedra preciosa endossa a teoria do alemão Josef Albers (1888-1976), de que nossa percepção da cor depende inteiramente do contexto a que somos expostos. A cena descrita acima ocorreu durante um sonho do artista brasiliense Renato Rios nos meses que antecederam a chegada de sua filha, Aurora. O enredo fantástico transformou-se em tela e agora nomeia também sua primeira individual como artista representado pela Galeria Estação.


Na parede oposta, localizada também no mezanino do espaço expositivo, está Grande Espirito. A pintura de grandes dimensões, feita no mesmo azul lisérgico que reforça a destreza de Rios no estudo da cor, atrai o espectador em sua direção, como se pudéssemos penetrar no portal mágico que se abre ao encará-la. Seu título nos indica um dos caminhos possíveis para desvendá-lo. O Grande Espirito, também conhecido como Wakan Tanka entre muitas culturas originárias das Américas, fala sobre o divino, o grande mistério da vida e para além dela. O Grande Espírito tem sido, muitas vezes, conceitualizado com uma divindade que nos conecta à espiritualidade, manifestando-se como o som do universo que tudo permeia, ressoando na pintura do artista por meio de finos círculos cromáticos que parecem vibrar uma espécie de melodia.


Entre as duas potentes pinturas desdobram-se de cada lado 36 telas de pequenos formatos. Cada uma delas repercute como uma nota musical e, juntas, elas compõem uma sinfonia de cores que se desenrola de forma continua, formando caminhos pelas laterais do espaço. Ao percorrê-las com nossos olhos, é como se nos déssemos conta de que tais telas nascem umas das outras em uma cadência poética e interconectada. Há um caráter instalativo na produção de Rios que se forma como um ouroboros, em que cada pintura nasce da outra, dando continuidade a um infinito circulo virtuoso.


A expografia proposta pelo artista para os dois espaços da Galeria Estação enfatiza suas relações de experiência com a pintura. Enquanto a cor e sua abstração são protagonistas no mezanino, sugerindo uma vivência celestial ao espectador, no mundo terreno do andar térreo, Rios propõe um estudo cromático voltado aos universos vegetal, mineral e animal, trazendo-nos de volta às raízes. Dessa forma, vemos a cor como sujeito em diferentes formatos, como esgueirando-se por uma fresta ou frincha pela qual é possível acessar um lugar novo, um portal de contato entre sensações que circundam o céu e a terra. É por essa mesma passagem que também retornamos dessa experiência, em um movimento continuo de ingresso e egresso, como a sístole e a diástole de um coração. Assim, as pinturas de Rios são, cada uma delas, passagens, portais de chegada e partida, de e para pontos de infinitas possibilidades que a luz, a paisagem e os seres animados e inanimados que nascem de suas tintas nos proporcionam.


A pintura para Rios é o lugar onde o artista se realiza enquanto sujeito. Tempo e espaço no qual congrega faculdades nos campos analíticos e nos diferentes fenômenos da percepção. A prática o leva a um certo estado de espirito que promove seu caminho de autoaprimoramento. Também é por meio dela que consegue convergir distintos mundos, reais e imaginários. Dessa forma, ela reforça seu papel agregador, que possibilita a ele celebrar e também sintetizar vivências. É por meio dessa mídia que conecta-se com seu eu mais íntimo, um campo espiritual criativo do que acredita ser o essencial à vida.


Em seu pensamento e também em sua produção, Rios sugere a união entre natureza e cultura, dois conceitos que costumamos ter como díspares, quase diametralmente opostos. A modernidade pautou-se por anos na dicotomia dessa ideia, como se a partir da construção de algo que nos alimenta intelectualmente nos distanciássemos de nossa origem, a terra. Segundo Merleau-Ponty (1908-1961), “no homem, tudo e? natural e tudo e? fabricado”. Somos uma junção do natural com o cultural, e isso talvez seja a singularidade, e, por que não, a potência e o assombro do Homo sapiens. E? na afluência desses dois territórios que brotam entre as camadas de cores sobrepostas cuidadosamente homens que aparecem como pontes entre esses dois universos que nos compõem. Seja em repouso, com olhar firme no horizonte, ou em ação, remando pelas águas, o humano tal qual retratado por Rios não nos leva ao sentimento de confronto, mas sim à harmonia da coexistência física e mental entre natural e cultural, como defende Merleau-Ponty.


A consonância de universos ganha força em tais figuras, que sugerem um encontro de distintas etnias, referências e ancestralidades. As escolhas do artista vão ao encontro do pensamento de Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), que em sua visão cosmológica diz que um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outros, ao contrário. Ele passa a ser ele mesmo e muitos rios, fortalecendo-se. “Quando a gente se confluencia, a gente não deixa de ser a gente, a gente passa a ser a gente e outra gente – a gente rende. A confluência é uma força que aumenta, que amplia.” Tal confluência na produção de Rios une visualidades, conecta os mundos figurativo e abstrato. E, como afirma Bispo, essa comunhão não faz com que a obra perca a potência, muito pelo contrário, ela soma-se, ganha contornos, relampejos, nuances, sabores distintos que só aqueles que estudam profundamente a alquimia das tintas conseguem alcançar. Entre as milhares de possibilidade da terra, nasce uma centena de aromas possíveis, que transitam nesse espaço de luz e sombra. Primeiramente, reconhecemos a força e a beleza dos tons específicos concebidos por Rios. É necessário tempo para alcançarmos o grau de miscigenação proposto pelo artista e que o leva a chegar a tais efeitos. Sua pintura nos conduz ao encantamento, eterniza a fração de segundo do movimento do pincel. Como disse Guimarães Rosa por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 1967, “O mundo é mágico: as pessoas não morrem, ficam encantadas.” E assim são as figuras que ocupam as telas do artista.


Nas camadas figurativas também encontramos os animais, constantes em sua produção artística. Notamos a caminhada da tropa de cavalos, o movimento de suas crinas, a forma com que curvam seus cascos, acercam-se uns dos outros. Suas pinceladas nos recebem nessa paisagem criando movimento, fazendo surgir em nós o som das passadas e de tudo aquilo que não vemos, mas que percebemos existir em tal cena. Na mesma toada, cruza o lobo-guará, personagem frequente nas paisagens do cerrado, bioma tão próximo à vivência pessoal do artista. Outros seres também perpassam as telas do pintor, deixando sua presença flertar entre o real e o imaginário e colocando a pintura de Rios mais uma vez em perspectiva. Ali também encontramos outras referências de seu ambiente pessoal, como a artemísia, planta aromática e arbustiva com características medicinais. Do céu, caem as estrelas de múltiplas cores, que sistematicamente aparecem em suas obras, relembrando-nos da conexão entre divino e terreno, já que somos todos filhos da terra, do fogo da água e do ar.

Ana Carolina Ralston
Curadora


 


 

RELEASE

O Elefante e a Safira, primeira exposição individual de Renato Rios na Galeria Estação, ocupa dois espaços com uma série de pinturas interconectadas pela poética onírica, figurativa e abstrata do artista brasiliense.

Com abertura em 25 de março, mostra apresenta 38 obras entre pinturas de pequeno, médio e grande formatos e conta também com outra parceria inédita, a colaboração da curadora Ana Carolina Ralston com a galerista Vilma Eid.

Bacharel em Artes Visuais pela Universidade de Brasília, sua cidade natal, Renato Rios reside em São Paulo desde 2016. Na capital paulista, foi assistente da escultora Laura Vinci e do pintor Paulo Pasta, duas grandes inspirações para sua formação artística. Aos 34 anos, com uma expressiva produção que já acumula sete celebradas mostras individuais, além de prêmios e participação em diversas coletivas, o jovem artista emplaca agora sua nova exposição, Renato Rios: O Elefante e a Safira. Com abertura em 25/3, a individual, composta de 38 obras entre pinturas de pequeno, médio e grande formatos – uma delas dá nome à mostra –, marca a primeira colaboração de sua representação pela Galeria Estação, parceria, aliás, almejada pelo próprio artista.

“Para mim é muito significativo fazer parte da Galeria Estação porque há nela raízes da arte brasileira nas quais sempre acreditei. Escolhi esse espaço para acolher meu trabalho porque sempre quis estruturá-lo em cima dessas raízes. A exposição também é uma espécie de celebração. Pela primeira vez sinto que reúno em uma única mostra todos os meus recursos técnicos e poéticos”, diz Rios. “Penso que meu trabalho apresenta agora a maturidade de estar num lugar onde posso transitar com bastante segurança no que faço sem nenhum tipo de reserva ou timidez”, afirma.  

Para Vilma Eid, sócia-fundadora da Galeria Estação, a aproximação de Rios foi também como um presente, assim como sua sugestão de curadoria para a mostra. 

“Talentoso, carismático, Renato nos escolheu e imediatamente nos conquistou. Sua prosa reflete sua obra, que compreende um mundo que vai do real ao imaginário, cativando a todos com a sensação de ‘quero mais’. A escolha da Ana Carolina Ralston também foi dele. Como há tempos queríamos realizar um projeto com a curadoria dela, chegou o momento certo. Renato é tão primoroso e detalhista que construiu uma maquete para nos mostrar como pensava a exposição. Assim, nos convenceu a ocupar dois andares da galeria para mostrar sua dissertação visual”, explica Vilma.

No andar térreo da Galeria Estação, Rios expõe telas que propõem um estudo cromático voltado aos universos vegetal, mineral e animal. Nas paredes laterais do mezanino estarão dispostos dois polípticos com o caráter de instalação, Serestas I e II, compostos de 24 pequenas pinturas que, segundo o artista, são como “bandeirinhas que sugerem uma partitura musical de cores”. Unindo esses elementos duas grandes pinturas estabelecem uma poética de unidade com o conjunto de imagens.

“As ‘partituras’ convergem, de um lado, com um ovoide chamado Grande Espírito, com 2,5m de largura. Do outro, teremos a tela O Elefante e a Safira. O sonho que inspirou essa pintura me veio cinco anos atrás, quando minha esposa estava grávida de minha filha, Aurora. Eu estava cansado no ateliê e decidi tirar um cochilo muito breve, mas nele tive esse sonho em que uma elefanta entrava pela porta do quarto carregando na ponta da tromba uma safira tão intensa que tudo em volta dela ficava envolto em uma luz azul misteriosa. Quando acordei, fui correndo para o ateliê e em 15 minutos desenhei um elefante azul com um ovo branco na tromba. Pra mim, tudo faz sentido quando eu consigo fazer coisas como essa, pegar uma porçãozinha da vida que me foi dada a ver, e dela extrair e dimensionar a beleza que sempre se abre pra mim”, explica Rios.   

No texto curatorial de Ana Carolina Ralston essa característica intuitiva do artista, que transita no limiar entre a realidade e imaginação, também reverbera em outras escolhas de sua poética: “A pintura para Rios é o lugar onde o artista se realiza enquanto sujeito. Tempo e espaço no qual congrega faculdades nos campos analíticos e nos diferentes fenômenos da percepção. Suas escolhas vão ao encontro do pensamento de Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), que em sua visão cosmológica diz que um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outros, ao contrário. Ele passa a ser ele mesmo e muitos rios, fortalecendo-se. Tal confluência na produção de Rios une visualidades, conecta os mundos figurativo e abstrato”, defende.

Na terça-feira, 23 de abril – dia em que a mostra com encerramento em 30/4 entra em sua semana final de visitações –, Renato Rios e Ana Carolina Ralston receberão o público para um bate-papo na Galeria Estação. 

Sobre Renato Rios
Renato Rios (Brasília, 1989), cursou Bacharelado em Artes Plásticas na Universidade de Brasília (UnB) entre 2008 e 2013, vive e trabalha em São Paulo desde 2016. Sua pesquisa investiga a intuição simbólica, buscando integrar os campos da representação e da consciência mítica acerca das relações natureza/espírito/mundo. Mostras individuais: Doces Laranjas, Galeria Alfinete, Brasília-DF (2015); Arquétipos, Espaço Breu, Barra Funda – SP (2018); Flecha, Galeria Karla Osório, Brasília-DF (2020); Lição dos Pássaros, Galeria Karla Osório, Brasília-DF (2022); Troca-Peles, Galeria Index, Brasília-DF (2023); Cruzeiros, Mul.ti.plo Espaço Arte, Rio de Janeiro-RJ. Participações em exposições coletivas, entre outras mostras realizadas em Brasília (DF): Brasília, Prazer de Pintura, Funarte Brasília (2010); Pela Superfície das Páginas, Espaço Cultural Marcantonio Vilaça (2014); Onde Anda Onda, Museu Nacional Honestino Guimarães (2015); Síntese Dinâmica III, Galeria Karla Osório (2019).
Prêmios: Prêmio de Arte Contemporânea Espaço Piloto (Unb), Brasília – DF (2011); Vera Brandt, Palácio do Planalto, Brasília-DF (2016); Prêmio Aquisição no 48º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (2020).  

Sobre Ana Carolina Ralston
Ana Carolina Ralston é pesquisadora e curadora de arte independente. Organiza e realiza textos e projetos para galerias e instituições, entre elas Pavilhão da Bienal, MIS-SP, Centro Cultural Correios, MuBA, Praça das Artes e Biblioteca Mário de Andrade. Foi curadora-adjunta do museu FAMA, em Itu/SP, entre 2018 e 2020, onde assinou exposições de Louise Bourgeois e Arthur Bispo do Rosário, entre outras. Também foi diretora artística da Galeria Kogan Amaro, com unidades em São Paulo e Zurique, na Suíça. Como jornalista cultural, atuou em diversos e relevantes veículos, como O Estado de S. Paulo, Vogue Brasil e Harper’s Bazaar Art. É mestra em jornalismo cultural pela Columbia New York University e pós-graduada em arte, crítica e curadoria pela PUC-SP. Atualmente, dedica-se à pesquisa sobre arte, natureza e a relação entre o universo ambiental e tecnológico.

Sobre a Galeria Estação
Com um acervo entre os pioneiros e mais importantes do país, a Galeria Estação, inaugurada no final de 2004 por Vilma Eid e Roberto Eid Philipp, consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não-erudita. A sua atuação foi decisiva pela inclusão dessa linguagem no circuito artístico contemporâneo ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas sob o olhar dos principais curadores e críticos do país. O elenco, que passou a ocupar espaço na mídia especializada, vem conquistando ainda a cena internacional ao participar, entre outras, das exposições Histoire de Voir, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, na França, em 2012, e da Bienal Entre dois Mares – São Paulo | Valencia, na Espanha, em 2007. Emblemática desse desempenho internacional foi a mostra individual de Veio – Cícero Alves dos Santos, em Veneza, paralelamente à Bienal de Artes, em 2013. No Brasil, além de individuais e de integrar coletivas prestigiadas, os artistas da galeria têm suas obras em acervos de importantes colecionadores e de instituições de grande prestígio e reconhecimento, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo, o Museu Afro Brasil (SP), o Pavilhão das Culturas Brasileiras (SP), o Instituto Itaú Cultural (SP), o SESC São Paulo, o MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o MAR, na capital fluminense.

SERVIÇO
Renato Rios: O Elefante e a Safira
Quando: 25/3 a 30/4
Onde:Galeria Estação
Endereço: Rua Ferreira Araújo, 625 - Pinheiros, São Paulo
Abertura:  25/3 (segunda-feira), das 18h às 21h.
Horários de funcionamento da galeria: segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 15h; não abre aos domingos.
Tel: 11 3813-7253
Email: contato@galeriaestacao.com.br
Site: www.galeriaestacao.com.br
Instagram: @galeriaestacao

CATÁLOGO

VIDEOS

Renato Rios: O Elefante e a Safira
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Documentário
Bate-papo em torno da exposição "O Elefante e a Safira" de Renato Rios
A Galeria Estação convida para um bate-papo em torno da exposição "O Elefante e a Safira"???, com o ...
Bate-Papo