Mulheres por mulheres
2024 é o ano do vigésimo aniversário da Galeria Estação.
Pensei, neste ano especial, na nossa primeira exposição, em homenagear as mulheres artistas com quem venho trabalhando, divulgando e que fazem parte da nossa história. Tenho por elas grande admiração!
Conceição dos Bugres
Elza de Oliveira Souza
Izabel Mendes da Cunha
Madalena dos Santos Reinbolt
Maria Auxiliadora Silva
Mirian Inêz da Silva Cerqueira
Noemisa Batista dos Santos
Zica Bérgami
A vida dessas mulheres foi cercada de muita arte, muita criatividade e muitas histórias, todas comoventes. Atualmente apenas a Noemisa está viva.
Conheci pessoalmente Dona Izabel, Noemisa e Zica. As duas primeiras em uma viagem que fiz em fevereiro de 2010 ao vale do Jequitinhonha. Com ambas vivi momentos de muita emoção e contato com uma realidade muito rica, com diálogos surpreendentes, muito pessoais.
Zica morava com a filha em São Paulo, no bairro de Alto de Pinheiros. Um dia, algum tempo depois da inauguração da Estação, recebo um telefonema de sua filha. Souberam da nova galeria e vieram me visitar. O encontro foi delicioso!
Zica estava na faixa dos 90 anos, muito bem-disposta. Além de desenhista, foi compositora. É dela a célebre canção "Lampião de gás". Faleceu aos 98 anos.
De Conceição dos Bugres, Izabel, Maria Auxiliadora e Mirian fiz exposições individuais quando ainda não eram conhecidas do grande público.
Convidei para escrever sobre esta coletiva três mulheres por quem tenho muita admiração e que toparam a tarefa: Galciani Neves, professora de Artes Visuais na Universidade Federal do Ceará e na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo; Lilia Schwarcz, historiadora e antropóloga, professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na Universidade de São Paulo; Lorraine Mendes, professora, pesquisadora e atualmente curadora da Pinacoteca do Estado São Paulo.
Além dessas três estudiosas, minhas amigas, também convidei a artista plástica Yara Dewachter como a 9ª artista da mostra, cuja pesquisa e obra falam de artistas mulheres. Em uma de suas exposições adquiri os retratos de Izabel e de Zica. Foi então que, ao pensar em Mulheres por mulheres, convidei Yara para retratar nossas oito artistas, buscando criar um diálogo visual enriquecedor.
A todas, artistas e escritoras, agradeço por terem embarcado comigo em mais esta viagem!
Vilma Eid
Ao completar 20 anos de atuação no mercado de arte, Galeria Estação abre em 22 de fevereiro o calendário 2024 com a coletiva “Mulheres por Mulheres”
Com 59 obras, a mostra, que fica em cartaz até 16 de março, é uma homenagem ao legado de Conceição dos Bugres, Elza de Oliveira Souza, Izabel Mendes da Cunha, Maria Auxiliadora Silva, Madalena dos Santos Reinbold, Mirian Inêz da Silva Cerqueira, Zica Bérgami e Noemisa Batista dos Santos. Além desse acervo reunido, todas as artistas foram retratadas pela artista plástica Yara Dewachter, cujas telas integram a exposição.
Neste ano, quando duas décadas de intensa atuação no mercado de arte, a paulistana Galeria Estação dá início à programação 2024 de exposições com a abertura, em 22 de fevereiro, da coletiva “Mulheres por Mulheres”. Idealizada pela colecionadora e galerista Vilma Eid, a mostra, de acordo com ela, “é uma homenagem a mulheres artistas com quem venho trabalhando, divulgando e que fazem parte da nossa história e pelas quais tenho grande admiração”.
Em seu olhar curatorial, Vilma selecionou 47 obras – entre telas e esculturas – de oito mulheres: a gaúcha Conceição dos Bugres (1914-1984), a pernambucana Elza de Oliveira Sousa (1928-2006), as mineiras Izabel Mendes da Cunha (1924-2014) Maria Auxiliadora Silva (1935-1974) e Noemisa Batista dos Santos (única artista viva da coletiva), a baiana Madalena dos Santos Reinbold (1919-1977), a goiana Mirian Inêz da Silva Cerqueira (1938-1996) e a paulista Zica Bérgami, (1913-2011). Além dos trabalhos dessas artistas, telas da pintora Yara Dewachter que retratam as homenageadas também irão compor a mostra em um diálogo visual enriquecedor com o legado delas.
De acordo com Vilma, a vida dessas mulheres foi pautada por muita criatividade e histórias, a maioria comoventes. De sua relação com algumas delas, a galerista conta: “Conheci pessoalmente dona Izabel, Noemisa e Zica. As duas primeiras em uma viagem que fiz em fevereiro de 2010 ao Vale do Jequitinhonha. Com ambas vivi momentos de muita emoção e contato com uma realidade muito rica, com diálogos surpreendentes e muito pessoais”. Sobre Zica, cujo nome original é Maria Elisa Campiotti Bérgami, ela lembra ter recebido sua visita pouco tempo depois de abrir a Estação. “Foi um encontro delicioso. Ela já estava na faixa dos 90 anos e muito bem-disposta. Além de desenhista, foi compositora, tendo criado a célebre canção Lampião de Gás. Já em relação a Conceição dos Bugres, Izabel, Maria Auxiliadora e Mirian, fiz exposições individuais quando ainda não eram conhecidas do grande público”, pontua.
Para escrever sobre esta coletiva, Vilma convidou três mulheres: Galciani Neves, professora de Artes Visuais na Universidade Federal do Ceará e na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo; Lilia Schwarcz, historiadora, antropóloga e professora titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo; e Lorraine Mendes, artista, pesquisadora e atualmente curadora da Pinacoteca do Estado São Paulo. “Além dessas três estudiosas também convidei a artista plástica Yara Dewachter, cuja pesquisa e obra falam de artistas mulheres. Em uma de suas exposições adquiri os retratos de Izabel e Zica. Foi então que, ao pensar em Mulheres por Mulheres, a convidei para retratar nossas oito artistas”, explica a galerista.
Demarcar diferenças e resistência
Para a professora Galciani Neves, esta coletiva reveste-se de grandes significados. Segundo ela, realizar uma mostra apenas com mulheres artistas é afirmar e ressaltar a importância do espaço de trabalhos dessas mulheres. “Essa é uma questão que demarca muitas diferenças. Para uma mulher ser artista, há que enfrentar desafios ainda mais complexos. Por isso, essa mostra tem a força de uma natureza de tempo muito específica, de uma resistência que tem a ver com o gênero e desejos que não sucumbem ao mundo como está organizado”, avalia.
Já a curadora Lorraine Mendes recorre a um artigo de 1971 da historiadora da arte norte-americana Linda Nochlin que ela considera essencial, “Por que não houve grades mulheres artistas”, para contextualizar a importância de “Mulheres por Mulheres”. De acordo com Lorraine, “Linda questiona parâmetros metodológicos da disciplina, bem como a construção da narrativa chamada de história da arte a partir da construção da figura do artista genial, esse ser com gênero, classe social e raça caprichosamente concebidos ao longo da história”. Em sua interpretação, ela acrescenta que às reflexões da historiadora podem ser adicionadas outras questões próprias de um contexto brasileiro, principalmente quando considerada a categoria da arte dita popular. “Nesse sentido, pensar a produção dessas oito artistas é, mais do que um convite à apreciação das obras e de suas histórias, a oportunidade de reconhecê-las como grandes referências da história da arte brasileira e de discutir questões urgentes que o campo enfrenta na atualidade”, afirma.
Por sua vez, em seu texto “Elza e Mirian: quando usar o nome próprio é ato de rebeldia”, Lilia Schwarcz revê e analisa de forma meticulosa e crítica a trajetória pessoal e profissional das duas artistas. Após contextualizá-las em seus espaços e tempo, ela afirma que o sistema de artes nunca foi generoso para com as mulheres e tampouco com artistas que foram externamente classificadas como populares. “Mirian e Elza são duas pintoras iluminadas, que, em plenos anos 1960/70, optam por tirar os nomes das respectivas famílias para se fazer reconhecer profissionalmente pelo designativo próprio por suas originalidades. Justo elas que, tão diferentes, foram enquadradas e hierarquizadas a partir de uma métrica elitista das artes que não dava espaço à pluralidade e à diferença. Hora de recusar esses gestos coloniais que preferem classificar o outro, mas não a si próprios. Pintar o cotidiano, a subjetividade e o mundo dos afetos nunca foi menos, sempre foi um imenso e profundo mais”, afirma.
“Mulheres por Mulheres” permanece em cartaz na Galeria Estação até 16 de março.
Sobre a Galeria Estação
Com um acervo entre os pioneiros e mais importantes do país, a Galeria Estação, inaugurada no final de 2004 por Vilma Eid e Roberto Eid Philipp, consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não-erudita. A sua atuação foi decisiva pela inclusão dessa linguagem no circuito artístico contemporâneo ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas sob o olhar dos principais curadores e críticos do país. O elenco, que passou a ocupar espaço na mídia especializada, vem conquistando ainda a cena internacional ao participar, entre outras, das exposições Histoire de Voir, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, na França, em 2012, e da Bienal Entre dois Mares – São Paulo | Valencia, na Espanha, em 2007. Emblemática desse desempenho internacional foi a mostra individual de Veio – Cícero Alves dos Santos, em Veneza, paralelamente à Bienal de Artes, em 2013.
No Brasil, além de individuais e de integrar coletivas prestigiadas, os artistas da galeria têm suas obras em acervos de importantes colecionadores e de instituições de grande prestígio e reconhecimento, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo, o Museu Afro Brasil (SP), o Pavilhão das Culturas Brasileiras (SP), o Instituto Itaú Cultural (SP), o SESC São Paulo, o MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o MAR, na capital fluminense.
Mulheres por Mulheres
Quando: 22/2 a 16/3
Onde: Galeria Estação
Endereço: Rua Ferreira Araújo, 625 - Pinheiros, São Paulo
Abertura: 22/2 (quinta-feira), das 18h às 21h
Horários de funcionamento da galeria: segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 15h; não abre aos domingos
Tel: 11 3813-7253
Email: contato@galeriaestacao.com.br
Site: www.galeriaestacao.com.br/
Instagram: @galeriaestacao