encerrado
31.03.2022 a 01.05.2022
Galeria Estação R. Ferreira de Araújo, 625 - Pinheiros, São Paulo - SP, 05428-001 | São Paulo - Brazil

CENOGRAFIA

INTRODUÇÃO

Santídio Pereira

Santídio, aos 19 anos, fez na Galeria Estaç?o sua primeira exposição, com curadoria de Rodrigo Naves. Sucesso absoluto. A apresentação ao público de um jovem artista muito inventivo. Hoje, aos 26, sua ascensão como um dos mais  promissores artistas da cena de arte contemporânea é motivo de orgulho e alegria para ele e para nós, que o acompanhamos passo a passo.
Sua trajetória foi veloz: residência e exposição em Nova York, mostra coletiva em Paris e Xangai com a Fundação Cartier, individual na Fundação Iberê Camargo, obras no acervo da Pinacoteca do Estado, na coleção Cisneros e em inúmeras coleções particulares.
Consciente de sua responsabilidade e sua missão como artista e ser humano cada vez mais visto e ouvido, Santídio, culto, sempre se aprofundando no conhecimento da arte moderna e contemporânea, usa esse saber em prol do seu trabalho.
Seu tema predileto tem sido a diversidade na paisagem natural brasileira –  pássaros, morros e plantas que revelam um olhar perspicaz. Ele defende a preservação da natureza, queconsidera, assim como a cultura, de importância vital para o ser humano.
Trabalhar com Santidio me ajuda a crescer. Observar seu amadurecimento nas artes e no mundo me leva para um lugar de satisfação interior.
O querido Tiago Mesquita foi a escolha minha e dele para a curadoria desta exposição.

Vilma Eid

curador

Santídio Pereira: Botânica


Tiago Mesquita


Em nome de uma ideia de objetividade, desde o século XVIII, os institutos científicos europeus criaram regras estritas para a figuração de espécies botânicas. Tais convenções foram elaboradas tendo em vista o uso daqueles desenhos, mas também foram marcadas pela herança de outras formas artísticas. Para atender à exigência utilitária, incorporaram-se artifícios retóricos e estilísticos que simulam na produção certa impessoalidade, neutralidade e discrição. Embora não conseguissem expurgar de seus desenhos, aquarelas e gravuras o fascínio pelo que era figurado, os artistas recorriam a expedientes que enfatizavam uma uniformidade formal e espacial. Tal homogeneidade permitia a alocação obediente de cada exemplar representado dentro de um quadro de referência taxonômica.


Por isso, no desenho, as plantas eram distribuídas, mesmo quando sinuosas, no centro do papel, em um eixo vertical, com o caule embaixo, as flores e folhagens em cima, emulando a ascensão progressiva da flora. As espécies apareciam como que suspensas, mas desabrochando. Delas eram retirados o peso e a sua implantação no solo. Isoladas, como peças de museu em redoma, jaziam dependuradas e eretas, embora viçosas, como se estivessem congeladas no auge de seu ciclo vital.


O traçado era de tal forma pormenorizado que nos permitia visualizar as delicadas nervuras das folhas, mudanças de textura das flores e galhos. Esse modo de representar, por servir à mais ideológica das ideologias, a que aspira à neutralidade, pretendia ser quase um não estilo. A despeito de suas ilusões, tal modo de criar tornou-se uma maneira típica da figuração de vegetais, escapando das funções mais marcadas e influenciando, conscientemente ou não, pouco importa, outras práticas artísticas. Falaremos dos sentidos diversos que essa relação da figura com o espaço pode ter.


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Santídio Pereira traz agora para a Galeria Estação algumas das suas maiores xilogravuras. Os trabalhos são muito recentes. Neles, vemos a figuração de trevos, flores, bromélias. Em relação ao que produzia anteriormente, o artista mudou sua relação com a técnica e com as cores. O colorido está mais variado, contrastado, vívido. Há pelo menos duas paletas nas gravuras: uma mais brilhante, a outra mais sombreada. O artista imprime tais cores em matrizes recortadas, com formatos diferentes. As estampas finais são, muitas vezes, a composição, por encaixe, de uma ou mais matrizes em um jogo modular de formas chapadas


Em intenção e no seu repertório formal, estes trabalhos parecem opostos às aspirações cientificistas do positivismo dos naturalistas do passado. Frequentemente, Santídio diz que a sua procura por formas e cores na natureza é movida pelo afeto. Mais de uma vez, o ouvi falar no encontro com plantas, paisagens e bichos como a busca de uma alegria nostálgica, da saudade de uma vida mais próxima da natureza, de uma sensação de arrebatamento. Portanto, não se trata de reconstruir o objeto, mas de quase aludir a uma sensação, a uma experiência, se é que isso é possível.


O seu esquema espacial, não obstante, nos permite aproximar as xilogravuras da figuração científica de outra época. Sabe-se lá por qual razão, o artista utiliza um esquema espacial muito aparentado. Como os naturalistas, Santídio também isola as espécies com que trabalha, as centraliza de alguma forma, subtraindo delas o peso e o solo.


As figuras sempre surgem no seu florescer: vigorosas e saudáveis, pairando sem se assentar no chão. São forma coloridas, encaixadas umas nas outras, sugerindo cores que se abrem em nossa direção.


Para os naturalistas de outrora, contudo, tal relação da figura com o espaço era parte de um método. O procedimento permitia isolar um motivo de estudo, identificar sua estrutura, separar as suas partes, entender suas articulações internas. Portanto, diferindo completamente de Santídio, eles pretendiam ilustrar uma compreensão prévia da figura. Encontrar características atribuídas de maneira convincente. Servindo a um quadro de conceitos compreensível aos pesquisadores. É verdade que, quando comparamos o desenho feito por um artista ou outro, muito mais se revela, contudo, a intenção era de uma descrição inteligível e esquemática. Trocando em miúdos, o desenho se pretendia parte de uma explicação. Santídio Pereira vai na direção oposta.


Embora também isole a figura, sem marcas de paisagem, solo ou contato com qualquer coisa, a razão do apartamento é totalmente outra. Não se trata de estabelecer a identidade absoluta entre conceito e objeto de estudo. Pelo contrário, é achar na flor a flor que não está mais lá.


O gravador trabalha com formas nitidamente diferentes do seu tema. Os coloridos não são os que vemos na natureza. Santídio mostra a mudança de posição das formas inteiriças a partir de sutis jogos tonais. As formas aceitam o aspecto chapado, planar, da gravura. Mais simples, as figuras se desgarram do seu referente e podem ser qualquer outra coisa, inclusive só elas mesmo.


São formas inteiriças que não se sobrepõem umas às outras. A força se dá pela justaposição entre cores e estampas, por vezes complementares, por vezes contrastantes. Tal jogo nos faz lembrar padrões ornamentais florais da modernidade, mas também de diversas outras tradições. Logo, nada mais distante de qualquer aspiração a ilusionismo naturalista.


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Assim, o que interessa Santídio ao isolar a figura não é reforçar a representação como exemplo, mas talvez tratá-la com a leveza do ornamento. O ornamento é um tema fundante no estudo da história da arte. Segundo o historiador austríaco Alöis Riegl, tal maneira de ocupar o espaço seria um dos momentos em que a produção artística se desobrigou de criar modelos figurativos de imitação da natureza. Ao se pensar em uma ocupação decorativa do espaço, mudava-se a relação das formas com o fundo. Era possível um desenho mais leve, marcado por um ritmo musical, distante da gravidade que vivemos.


Tal tratamento formal não é descritivo. Assim, não reconstrói memória ou figura uma experiência possível. Pelo contrário, nem toca no chão. Sugere um ritmo leve, sem brutalidade, cada vez mais distante da vida contemporânea. Cria um lugar fantasioso, que não corresponde a nada que exista realmente. Está lá, impresso no papel, como promessa, como miragem.

RELEASE

Galeria Estação
Apresenta

Santídio Pereira Botânica
Abertura: 31 de março, das 14h às 19h | Visita guiada com o artista às 17h
Visitação: até 30 de abril de 2022

Santídio Pereira traz para a Galeria Estação – que o representa desde o início de sua carreira precoce, aos 19 anos – 21 xilogravuras de tiragem única em grandes e médios formatos, concebidas em 2022. Depois da primeira individual (2016), com curadoria de Rodrigo Naves, e da segunda (2018), com curadoria de Luisa Duarte, nesta terceira mostra na galeria a sua botânica particular evidencia-se sob o olhar do crítico Tiago Mesquita. Nesse período, Santídio, agora com 26 anos, entre outras conquistas, fez residência e exposição em Nova York, mostra coletiva em Paris e Xangai promovida pela Fundação Cartier, individual na Fundação Iberê, em Porto Alegre, ainda em cartaz, além de suas obras alcançarem acervos importantes, como Pinacoteca de São Paulo e Coleção Cisneros.

Interessado na diversidade da paisagem natural brasileira – são conhecidas suas séries que retratam flores, pássaros e montanhas –, o artista reúne na exposição algumas das suas maiores xilogravuras, nas quais se vê a figuração de trevos, flores, bromélias. “Quanto ao que produzia anteriormente, Santídio mudou sua relação com a técnica e com as cores. O colorido está mais variado, contrastado, vívido”, afirma Mesquita. Segundo o curador, há pelo menos duas paletas nas gravuras: uma mais brilhante, a outra mais sombreada, cores impressas em matrizes recortadas, com formatos diferentes. “As estampas finais são, muitas vezes, a composição, por encaixe, de uma ou mais matrizes em um jogo modular de formas chapadas”, explica.

Mesquita, em seu texto sobre a exposição, faz um paralelo entre a objetividade do desenho realizado pelos institutos científicos europeus a partir do século XVIII e a forma contemporânea com que a arte de Santídio se expressa diante da natureza. Segundo o curador, em intenção e no seu repertório formal, estes trabalhos parecem opostos às aspirações cientificistas do positivismo dos naturalistas do passado. “Mais de uma vez, o ouvi falar no encontro com plantas, paisagens e bichos como a busca de uma alegria nostálgica, da saudade de uma vida mais próxima da natureza, de uma sensação de arrebatamento. Portanto, não se trata de reconstruir o objeto, mas de quase aludir a uma sensação, a uma experiência, se é que isso é possível.” Não obstante, continua Mesquita, o seu esquema espacial nos permite aproximar as xilogravuras da figuração científica de outra época. “Como os naturalistas, Santídio também isola as espécies com que trabalha, as centraliza de alguma forma, subtraindo delas o peso e o solo”, completa.


Santídio Pereira (Curral Comprido – Piauí, 1996, vive desde os 8 anos e trabalha em São Paulo).
Além das conquistas já citadas, Santídio fez parte da exposição dos 10 selecionados do 5º Prêmio EDP nas Artes, do Instituto Tomie Ohtake, em 2016, quando foi convidado a ministrar cursos sobre xilogravura na programação da edição. Em 2017, participou da programação de abertura do Sesc 24 de maio, apresentando ao público o seu processo criativo em xilos de grandes formatos. Foi selecionado e participa da 1 ª Mostra do Programa de Exposições 2018 do Centro Cultural São Paulo, onde também ministrou curso sobre a sua prática. A partir de 2019, tem presença no exterior.

O jovem artista Santídio Pereira nasceu em Curral Comprido, um pequeno povoado localizado no interior do Piauí, Nordeste brasileiro. Migrou para São Paulo ainda criança e logo ingressou no Instituto Acaia, uma ONG privada, sem fins lucrativos, que atende crianças e adolescentes residentes próximo ao Ceagesp, local onde também trabalhou. Foi com apenas oito anos de idade, através das “oficinas de fazeres” do Ateliescola Acaia, que Santídio iniciou sua prática artística. E são justamente as imagens das memórias preservadas desde sua segunda infância, tanto de sua terra natal, quanto das experiências posteriores, que compreendem hoje o viés condutor da obra de Santídio Pereira.

A xilogravura atendeu aos primeiros interesses do artista, que desenvolveu procedimentos próprios de trabalho, como o que ele denomina “incisão, recorte e encaixe”, ou seja, a composição por meio da combinação de várias matrizes recortadas, como peças de um quebra-cabeça. Além de proporcionar um jogo de cores através de acúmulo e justaposição de tinta, essa técnica permite subverter a função de multiplicidade, tão característica da gravura. Com o tempo, a materialidade das tintas trabalhadas sobre o papel passou a protagonizar a investigação de Santídio, e até hoje norteia sua produção artística.

A experimentação no estudo das cores tornou-se vetor importante para expressar suas memórias, sentimentos e sentidos, que são inerentes também à cultura e aos fazeres populares dos lugares por onde esteve. Não à toa, o artista sentiu a necessidade de aumentar a superfície de apreciação das cores, aumentando a escala de suas obras.
São duas as séries de xilogravuras representativas de Santídio: “Pássaros” (2018) e “Bromélias” (2019). A memória afetiva levou o artista a investir numa pesquisa iconográfica sobre os pássaros da Caatinga do Piauí. Além de procurar entender os saberes populares e a relação das pessoas com esses animais, Santídio foi estudar biologia e mitologia. Mais tarde, a partir da residência artística Kaaysá, realizada em Boiçucanga, litoral de São Paulo, surgiu a série de bromélias. Da mesma forma que inspirou Roberto Burle Marx, essa planta tropical tipicamente brasileira também foi um grande objeto de investigação de Santídio, que investiu em viagens pelo país para o exercício da observação, além do estudo científico. Em ambas as séries, o conjunto sensível de conhecimentos populares foi associado a um meticuloso estudo de cores, que normalmente emergem da memória visual e das sensações que o artista preserva das experiências da vida. Para ele, reconhecer a relevância dos saberes populares é tão importante quanto entender a importância da natureza no Brasil, principalmente nos dias atuais.

Desde o começo da carreira do artista, a investigação com gravura vem abrindo portas para outras técnicas e suportes, sempre atraído pela materialidade e sua representatividade nas artes visuais. A série de pinturas “Morros” (2021) surgiu com o sentimento de liberdade ao se deparar com a visualidade da paisagem natural de Santo Antônio do Pinhal, Serra da Bocaina e da Cantareira, todas em São Paulo, e como ela resgata reminiscências de cores, imagens e sensações. Utilizando tinta offset, a mesma da produção das xilogravuras, Santídio também parte do princípio de “incisão, recorte e encaixe” para criação das composições em pintura sobre papel Hahnemuhle, traduzindo as sensações através das gradações de cores e justaposições. Ultimamente, Santídio vem pesquisando e desenvolvendo trabalhos em aquarela, tinta offset, xilogravura e monotipia.

Exposição: Santídio Pereira – Botânica
Abertura: 31 de março das 14h às 19h – visita guiada com o artista às 17h
Visitação até 30 de abril de 2022
De segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h – entrada franca.

Galeria Estação
Rua Ferreira de Araújo, 625 – Pinheiros SP
Fone: 11.3813-7253
www.galeriaestacao.com.br

Informações à Imprensa
Pool de Comunicação – Marcy Junqueira / Martim Pelisson
Fone: 11.3032-1599
marcy@pooldecomunicacao.com.br / martim@pooldecomunicacao.com.br / flavio@pooldecomunicacao.com.br 

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