encerrado
22.07.2020 a 30.06.2021
Online | São Paulo - Brazil

INTRODUÇÃO

Santídio Pereira

Em 2016 fizemos na Galeria Estação a primeira exposição do jovem Santídio Pereira. Ele nos foi apresentado pelo crítico, professor de arte e nosso amigo Rodrigo Naves, que já via nele o artista que ele prometia ser.

Era nessa época um jovem com formação no Acaia, ONG paulista, hoje transformada em escola, responsável pela formação e transformação de vários jovens moradores das favelas na região do Jaguaré.

Tímido mas sabendo exatamente aonde queria chegar, Santídio recebeu o aplauso da mídia e da crítica especializada, além de uma exposição sold out.

Assim nos conhecemos.

Hoje, em 2020, apenas quatro anos depois, ele já tem no seu histórico uma residência artística em Nova York, participação em uma coletiva importante em Paris, na Fondation Cartier, e na Panorama do MAM em 2019, além de várias exposições em diferentes unidades do Sesc. Há obras dele no acervo da Fondation Cartier, em Paris, na Pinacoteca do Estado de São Paulo e na rede Sesc.

Em 2018 fizemos sua segunda individual.

Em pouco tempo ele se tornou um artista conhecido e suas obras, requisitadas. Sentimos muito orgulho de Santídio, e o prazer que nos dá tê-lo como nosso artista é imenso.

Aproveitando seus novos trabalhos e o “novo normal”, apresentamos agora uma nova exposição, desta vez virtual.

Curtam.

texto

Entre dois trópicos


Nasci no interior de uma cidade muito pequena, no estado do Piauí, Nordeste brasileiro. Passei toda minha primeira infância na Caatinga, subindo em pé de manga, comendo goiaba no pé, nadando em baixas e em contato íntimo com a natureza. Essas vivências felizes da primeira infância constituem grande parte do que eu sou hoje e dizem respeito também aos trabalhos que venho desenvolvendo atualmente.


Por volta do fim da minha segunda infância, minha mãe, em busca de oportunidades para os fillhos, muda-se para São Paulo e posteriormente, residindo em uma favela ao lado do Ceagesp, maior centro de distribuição de frutas e verduras da América Latina, chama os quatro filhos.


Vivendo em São Paulo, dados a desigualdade e os problemas estruturais da sociedade brasileira, muitos foram os choques. Não somente isso, não me encaixava na geografia da cidade que recusa a natureza e por vezes chega a interpretar suas manifestações como sujeira. Dessa forma, só restaram as lembranças felizes da infância, o cheiro da terra vermelha, o barulho do vento nas folhas de bananeira, as brincadeiras, o horizonte e o céu azul.


Ainda muito cedo, sobretudo por consequência do esforço de minha mãe, tive a oportunidade, mesmo perante a situação em que nos encontrávamos, de estudar e entrar em uma ONG chamada Acaia. Pelo Acaia, pude dos sete aos dezoito anos fazer inúmeras oficinas e cursos artísticos, como, por exemplo, marcenaria, desenho, cerâmica, vídeo, animação, design gráfico, tipografia e também xilogravura.


Feito isso e com um carinho especial pelas possibilidades da gravura, comecei a dedicar um significativo tempo para entender a técnica e descobrir possíveis procedimentos poéticos.


O resultado desse debruçamento sobre a xilogravura foi mostrado de forma ampla na Galeria Estação em 2016, quando fiz minha primeira individual, com curadoria de Rodrigo Naves.


Depois disso, e de mostrar trabalhos em instituições como o Instituto Tomie Ohtake e o CCSP, o trabalho começou a tomar um corpo no sentido de espaços de alcance muito maior e comecei a dedicar ainda mais tempo à arte e a viver do meu trabalho artístico.


O recorte da série de trabalhos que apresento aqui nasce das lembranças felizes da infância e da necessidade de um contato com a natureza, especialmente quando vivemos em grandes centros urbanos como São Paulo, Nova York ou Paris.


No sentido de forma, estes trabalhos ocasionalmente nascem de plantas que podem ser encontradas em árvores gigantes da Mata Atlântica, cobertas de bromélias, orquídeas e demais plantas e cipós.


Eventualmente tenho a oportunidade de fazer residências artísticas, e essas viagens são fundamentais para criar o conhecimento e possibilitar a intimidade. Olhar para uma planta em seu ambiente natural, poder sentir seu cheiro e perceber as relações que ela estabelece no espaço natural, é algo que, rapidamente, está se tornando raro.


Os trabalhos aqui apresentados também nascem do que podemos chamar de imaginação, ou seja, por vezes, são plantas imaginárias que nascem da metamorfose das lembranças.


Apresento também, além das plantas da Mata Atlântica, algumas plantas que podem ser encontradas na Caatinga e no Cerrado brasileiro. Eventualmente as lembranças se misturam e características de uma determinada espécie podem se encontrar na outra.


Com relação às cores, a maioria nasce das sensações que podem despertar e das relações que estabeleço entre elas, logo, nesses trabalhos não encontramos o que entendemos como cor local, ou seja, não necessariamente a cor do trabalho é verossimilhante com a cor da planta na natureza. Ademais, penso que esses trabalhos podem ser entendidos individualmente, mas que funcionam muito bem quando em duplas ou trios, pois é possível estabelecer diferentes relações de forma e cor.


Grosso modo, os trabalhos individualmente funcionariam de forma semelhante uma nota musical, já em conjunto funcionariam como a combinação dessas notas.


As plantas e folhagens são feitas com procedimentos não convencionais. Antigamente eu fazia incisões na madeira e imprima com tinta preta, porém, agora, em alguns trabalhos existe uma pesquisa extensa de cor, incisão, recorte e encaixe.


Santídio Pereira


 

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