Lindo Sonho Delirante – Dani Tranchesi 11 de fevereiro - 19h - abertura | 2o andar Exposição até 14 de março de 2020 na Galeria Estação
Lindo Sonho Delirante
Dani Tranchesi
por Diógenes Moura
Quem de nós recolherá os resquícios da cidade que grita e transborda? A fotografia já não basta. A imagem, sim. A imagem é como um espelho partido: sangra e alivia ao mesmo tempo. Depende quem está diante dele, do espelho onde a imagem não mente. O semblante de uma cidade (São Paulo) é como um livro aberto, tão fatal como uma onda no mar, tão profundo como a saudade em um dia de domingo. Do lado de lá (Ilha Do Marajó) os de dentro colocam o sofá nas portas das ruas para falar com os cometas, ter certeza de que os objetos voadores não identificados não dominarão os búfalos. Ainda por dentro da metrópole, o consumo se confunde com fortuna e abandono. Custe o que custar. Um livro aberto poderá mudar a cada instante. Lindo Sonho Delirante não é pronúncia. É existência. Ultrapassa o limite entre fuligem e oceano. É como um retrato. Um veredicto com olhar impermeável. (DM)
Onde estão os outros? Com quantos passos adiante o próximo eu cairá? Diante da vitrine o reflexo se esvai. Entre violência e paixão a cidade gosma. A fotografia já não basta. A imagem, sim. Coito fino, transparência. O corpo caído tem nome e sobrenome. Quando a cor explode dentro da casa dos outros há um sopro, um porque ecoando no osso da floresta que arde. Do lado de cá o concreto esquenta sua memória embutida nas paredes, nas bordas dos viadutos onde cada certidão de nascimento será sempre uma sentença para a noite seguinte. Nas telas das TVs os demônios clamam por tragédias. Nos rastros das nuvens a tempestade se aproxima: as horas na terra não pertencem aos outros. O homem não é uma mercadoria, um pacote existência. O homem sobre a terra é fera com olhos, desejo e fome. (DM)
“Vem Deus”, dizem os outros. No reboco das paredes as letras da cidade precisam explodir, respingar. Os que escrevem poderão despencar do vigésimo terceiro andar. As saídas estão bloqueadas. Nas paredes do lado de lá tudo que é vermelho explode em azul de noturno mar: panos, tempos, leitos, mitos. Tudo milimetricamente instalado: a onça, a vulva, o pranto, o risco, o nada. No homem que enxerga a verdade escapole. A fotografia já não basta. A imagem, sim. Na página virada o cão late porque seu dono bateu a porta. É sempre assim. Uns sempre abandonam os outros. Sobre o roxo da parede o pai, a mãe, os filhos impressos no papel amarelado. Tudo a mesma coisa, todo dia, diante do vento morno do ventilador cor de rosa. No tempo desconectado a única saída será ouvir. Veja, o meu pulso ainda possui batimentos cardíacos. O silêncio de Deus é angustiante, dói. (DM)
O homem que caiu recupera os sentidos. O bronze no rosto da esfinge tem pele de fuligem. Os dois pés no chão não contaminam as bitucas dos cigarros. A cidade gosma. Do lado de lá, na outra ponta da baía de água doce todos os santos adormecem nas redes enquanto seus filhos espiam as estrelas, uma a uma, contam nos dedos, nas folhas secas, nos cantos limpos, nos carnavais. Do lado de cá, na cidade onde o tempo não rosna, o homem que vive despencando nas entranhas do viaduto cospe palavras aos nacos, aos maços, entre os dentes. Sua casa é uma fronteira entre cinza e cinza. Sua carne treme quando cada automóvel avança na pista acima. Há quem fale em direitos humanos. Nenhuma mercadoria. O homem sobre a terra é fera com olhos, paz intranqüila, cobiça. Quando o livro for aberto tudo estará em trânsito. (DM)
Todas as imagens de Lindo Sonho Delirante foram captadas em São Paulo, Belém e Ilha do Marajó: Salvaterra, Joanes, Soure e Cachoeira do Arari, entre 2018 e 2019
Dani Tranchesi é fotógrafa. Vive em São Paulo.
Traduz em imagens o interesse pelos outros e pelas diversas formas de viver.
Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor. Escreve sobre existência, imagem e abandono. Em 2019 foi semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura com O Livro dos Monólogos – Recuperação para Ouvir Objetos (Vento Leste Editora).
Lindo Sonho Delirante
Exposição realizada na Galeria Estação, entre Fevereiro e Março de 2020
Ficha técnica do livro:
Dani Tranchesi
Fotografia | photography
Diógenes Moura
curadoria | edição | textos
curator | edition | texts
Leticia Moura
projeto gráfico | Graphic Design
Kelly Pollato
tratamento de imagem | image treatment
John Norman
tradução | translation
Armando Olivetto
revisão | proofreading
Heloisa Vasconcellos
produçãográfica | Graphic production
Ipsis
impressão | printing
PATROCÍNIO | SPONSORSHIP
Ana Helena e Arthur Vicintin
Cecilia P. Machado Sicupira
Denise e Alex Fontana
Geyze e Abilio Diniz
Laly e Carlos Mansur
Mauricio Monteiro
Paula Rocha
TL portfólio
Viajan
Galeria Estação
Apresenta
Lindo Sonho Delirante – Dani Tranchesi
Abertura: 11 de fevereiro, às 19h - até 14 de março de 2020
O projeto desenvolvido por Dani Tranchesi, com acompanhamento de Diógenes Moura, resultou na exposição Lindo Sonho Delirante e no livro homônimo (Editora Martins Fontes). O escritor, que também assina a curadoria da mostra bem como o texto e a seleção de imagens da publicação, encontrou-se semanalmente com a artista ao longo de um ano.
Se para a sua primeira individual, realizada no ano passado na Galeria Estação, Tranchesi percorreu vários países, agora a sua lente concentra-se no Brasil, nas cidades de São Paulo, Belém e na Ilha do Marajó, em Salvaterra, Joanes, Soure e Cachoeira do Arari.
Segundo o curador, a mostra com cerca de 60 fotografias realizadas em 2018 e 2019 é formada em sua grande maioria por dípticos ou trípticos. “Busquei criar um roteiro em que as possibilidades narrativas entre as imagens ou de cada uma ficam por conta do olhar do espectador”, diz Moura. São fotos que ora miram a crueza de vidas e espaços de cidades metropolitanas, ora o onírico que guarda a Ilha de Marajó, onde ainda contemplar estrelas é um ato cotidiano.
“O semblante de uma cidade (São Paulo) é como um livro aberto, tão fatal como uma onda do mar, tão profundo com a angústia em um dia de domingo. Do lado de lá (Ilha do Marajó) os de dentro colocam o sofá nas portas das ruas para falar com os cometas, ter a certeza de que objetos voadores não identificados não dominarão os búfalos”, escreve Moura.
A fotógrafa paulistana, a partir de 2018, viajou várias vezes para a Ilha do Marajó. Em São Paulo seu núcleo de pesquisa se estabeleceu na região central da cidade. O interesse pelos outros e pelas diversas formas de viver, recorrente em sua produção, permanece expresso nas séries realizadas em Marajó e nas duas capitais. Fotografias de ambientes domésticos, detalhes de objetos, atmosferas de beleza e acolhimento contidas na resistência da simplicidade se contrapõem a destinos de homens e espaços urbanos abandonados na esteira do progresso.
Dani Tranchesi (1968, São Paulo) estudou Comunicação na Escola Superior de Propaganda e Marketing e Fotografia na Escola Panamericana de Arte. Em sua produção autoral, a artista se dedica à diversidade de pessoas e culturas nos cerca de 70 países que percorreu.
Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor. Em 2019 foi semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura com O Livro dos Monólogos – Recuperação para Ouvir Objetos (Vento Leste Editora). Premiado no Brasil e exterior, foi Curador de Fotografia da Pinacoteca do Estado entre 1998 e 2013. Escreve sobre existência, imagem e abandono.
Exposições: Lindo Sonho Delirante – Dani Tranchesi
Abertura: 11 de fevereiro, às 19h
Visitação até 14 de março de 2020
Classificação livre
De segunda a sexta, das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h - entrada franca.
Galeria Estação
Rua Ferreira de Araújo, 625 – Pinheiros SP
Fone: 11.3813-7253
www.galeriaestacao.com.br
Informações à Imprensa
Pool de Comunicação – Marcy Junqueira / Martim Pelisson / Ana Junqueira
Fone: 11.3032-1599
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